Em 1872, o pesquisador britânico George Smith leu um texto assírio milenar para membros da Sociedade de Arqueologia Bíblica de Londres. Eram inscrições feitas em uma tabuleta de argila, descoberta cerca de 20 anos antes no atual território do Iraque. O relato fazia parte de uma história perdida escrita há 4 mil anos. "Sou o primeiro a ler essas linhas em mais de dois milênios", disse Smith, emocionado. O mais surpreendente é que o trecho era muito parecido com a passagem bíblica sobre a Arca de Noé, apesar de ter sido escrito muito antes.
A história da descoberta do texto começou em dezembro de 1853, quando um grupo de arqueólogos coordenado por Hormuzd Rassam localizou a biblioteca do palácio do rei assírio Assurbanípal, na antiga Nínive (atual cidade iraquiana de Mossul). Lá, foram encontradas antigas tabuletas, levadas em seguida para o Museu Britânico. No final da década seguinte, Smith, especializado em cultura assíria, foi contratado pela instituição para estudar e traduzir os textos.
Mike Peel, via Wikimedia Commons
A Epopeia de Gilgamesh tem origem na Mesopotâmia. O poema épico é uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Acredita-se que sua origem esteja em diversas lendas e poemas sumérios sobre o mitológico deus-herói Gilgamesh (ou Gilgamés), reunidos e compilados no século VII a.C. pelo rei Assurbanípal. Gilgamés, apesar de ser “dois terços deus”, é muito humano. Esse personagem sempre está cometendo erros, nunca alcança suas metas e, como toda a humanidade, tem que aceitar a morte como uma transição inevitável depois da vida.
A chamada “Tabuleta do Dilúvio”, ou a Tabuleta XI, foi a primeira a ser traduzida por Smith. Em 1876, ele reuniu parte de sua tradução em um livro chamado "Relato Caldeu do Dilúvio". Era uma referência aos caldeus, nome usado na Bíblia para se referir à população e aos governantes do Império Babilônico. A narrativa sobre o dilúvio na Epopeia de Gilgamesh é uma das principais evidências de que as mitologias bíblicas foram influenciadas por culturas mais antigas da região da Mesopotâmia.
Museu do Louvre, via Wikimedia Commons
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