Estima-se que 99% de todas as
espécies que já existiram na Terra hoje estão extintas. Um número
chocante, mas mais impressionante que isso é saber que essas espécies
não foram sumindo aos poucos ao longo da história. Pelo contrário: as
extinções foram concentradas em períodos relativamente curtos, em que
grandes porcentagens de toda a vida existente sumiram em apenas alguns
milhões de anos (o que, na linha do tempo da Terra, é muito pouco).
Já faz algum tempo que diversos cientistas vêm argumentando que a sexta extinção em massa está ocorrendo agora, no momento em que você lê esse texto. Não faltam evidências que mostram que o número de espécies extintas no Holoceno (o período atual que vivemos, que começou há cerca de 11 mil anos) está cada vez mais próximo do número de extinções dos eventos em massa citados – tudo por conta da ação da humanidade.
Só no século 20, por exemplo, centenas
de espécies se foram para sempre, e, para as próximas décadas, a ONU
afirma que quase um milhão de espécies de animais e plantas estão
ameaçadas de extinção em algum grau por conta de atividades humanas. Em
2015, um estudo publicado na revista Science compilou
evidências como essa para bater o martelo e chegar em uma conclusão bem
aceita na comunidade científica: tudo indica que estamos de fato
vivendo uma extinção em massa.
Acelerando a extinção
Agora, um novo estudo
da mesma equipe não só reafirma a ideia como mostra que as extinções
estão acontecendo ainda mais rápido do que se previa anteriormente. Ou
seja: o fenômeno está acelerado. A equipe da Universidade de Stanford e
da Universidade Nacional Autônoma do México usou 29.400 espécies de
vertebrados terrestres como um indicador da velocidade das extinções que
estamos vivendo. Deste total, 515 se encaixam no conceito de “à beira
da extinção” (quando há menos de mil representantes da espécie vivos no
mundo atualmente). Desse grupo, cerca de metade conta com menos de 250
espécimes vivos, o que é ainda mais grave.
Usando dados de 77 espécies de
mamíferos e pássaros que estão no grupo de seriamente ameaçadas, os
pesquisadores descobriram que 94% de todas as populações dessas espécies
sumiram no último século. Generalizando essa porcentagem para as outras
espécies do grupo de maior risco, eles estimaram mais de 237 mil
populações desses animais sumiram desde 1900.
Supondo que essas espécies em alto
risco só sobrevivam por mais algumas décadas, e somando essas espécies
com as 543 de vertebrados já extintas no século 20, um total de 1.508
espécies de vertebrados terrestres estarão extintas até 2050. Calcula-se
que, em condições normais, apenas nove espécies do tipo seriam extintas
naturalmente. Ou seja, a taxa de extinção do período 1900-2050 será 117
vezes maior do que a taxa de extinção esperada. Um número tão grande em tão pouco tempo só é observado em eventos de extinção em massa.
O problema é ainda pior se colocarmos
na conta as 388 espécies que possuem entrem 1.000 e 5.000
representantes vivos. O número de espécimes vivos é um pouco maior, mas a
situação delas não é exatamente confortável. Além disso, 84% dessas
espécies vivem nas mesmas regiões das 515 citadas anteriormente, que
estão sob altíssimo risco de extinção – o que piora tudo. Isso porque,
quando se trata de extinções, há de se considerar o efeito cascata: o
sumiço de uma espécie prejudica as relações ecológicas de todo um
habitat, e isso facilita que outras espécies também sigam pelo mesmo
caminho.
“Interações ecológicas de espécies à
beira da extinção tendem a levar outras espécies à aniquilação quando
desaparecem – ou seja, a extinção gera extinções”, explicam os
pesquisadores no estudo. Um exemplo claro disto é o da
“vaca-marinha-de-steller”, uma espécie de mamífero marinho que foi
extinto no século 18 devido à diminuição do número de lontras marinhas
no mar de Bering por conta da ação de caçadores humanos.
Acontece que as lontras marinhas eram
predadoras de ouriços-do-mar, que prosperaram quando elas sumiram. Os
ouriços, por sua vez, se alimentavam de vegetação marinha, assim como as
vacas de steller. Elas não conseguiram competir com o grande número de
ouriços e acabou sendo extinta.
Engana-se quem pensa que o problema
está só nos animais selvagens. A equipe lembrou que nossa relação com a
natureza também será profundamente afetada caso tantas espécies sumam
tão rapidamente. O estudo cita a atual pandemia de Covid-19 como uma
consequência direta de nossa relação conturbada com a vida animal –
afinal, é quase certo que o vírus chegou aos humanos graças ao comércio
ilegal de animais selvagens.
Com isso, a extinção em massa atual é
comparável com fenômenos como o aquecimento global em termos de riscos à
humanidade, e “pode ser a ameaça ambiental mais séria contra a
sobrevivência da civilização, porque é irreversível”, como escrevem.
No entanto, os cientistas afirmam que
não é tarde demais para agir. “O modo como lidamos com a atual crise de
extinção nas próximas duas décadas definirá o destino de milhões de
espécies”, diz Gerardo Ceballos, um dos autores do estudo. Algumas
medidas sugeridas na pesquisa incluem forte proibição e fiscalização do
comércio de espécies silvestres, diminuição imediata do desmatamento e
categorização de todas as populações animais com menos de 5 mil
exemplares como “criticamente ameaçadas”.
As outras extinções em massa
Ordoviciano-Siluriano (443 milhões de anos atrás)Foi o segundo maior evento de extinção da história em termos de porcentagem de espécies perdidas. Na época, toda a vida do mundo era marinha, e estima-se que 85% das espécies sumiram – corais e os chamados trilobitas foram especialmente afetados. O evento provavelmente foi causado por movimentos tectônicos que levaram à glaciação e queda no nível do mar.
Devoniano (383-359 milhões de anos atrás)
Em 20 milhões de anos, 75% das espécies existentes na Terra foram extintas, o que faz deste o terceiro maior evento de extinção conhecido. Novamente, os mais afetados foram os seres marinhos, incluindo os primeiros peixes primitivos. As causas ainda são debatidas, mas acredita-se que uma queda da oxigenação nas águas devido a asteróides e/ou fenômenos de vulcanismo criou um ambiente bastante inóspito à vida.
Permiano-Triássico (250 milhões de anos atrás)
A “mãe de todas as extinções em massa”, como o período é conhecido, foi o evento mais letal para a vida já registrado: 95% das espécies marinhas e 75% das terrestres desapareceram. O cataclisma foi causado pela erupção da rede de vulcões conhecida como “Trapps siberianos” no que hoje é a Rússia, liberando 14,5 trilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, resultando num aquecimento global digno de ser categorizado como “infernal”.
Triássico-Jurássico (200 milhões de anos atrás)
De novo, erupções vulcânicas transformaram a Terra em um lugar nada agradável. Dessa vez, a culpada foi a Província Magmática do Atlântico Central, uma rede de vulcões que se concentrava no centro do continente da Pangeia (hoje, os remanescentes vulcões estão espalhados pela América e pela África devido à separação dos continentes).
Um fato curioso é que a extinção aniquilou várias espécies de répteis crocodilianos (parentes bem distantes dos crocodilos atuais), que dominavam o ambiente terrestre. Isso abriu espaço para os famosos dinossauros começarem a surgir e dominar o mundo como grandes predadores.
Cretáceo-Paleógeno (65 milhões de anos atrás)
A mais recente e famosa extinção em massa, que extinguiu todos os dinossauros não-aviários da Terra (sobraram apenas as espécies que, no futuro, dariam origem às aves modernas). O evento está quase certamente ligado à queda de um enorme asteroide na Península de Iucatã, no México.
Holoceno (atualmente).
É a que provavelmente estamos vivendo hoje. As taxas de extinção que observamos nos últimos séculos têm sido bem maiores que as esperadas em uma situação normal e estão cada vez mais perto das taxas de extinção dos eventos citados acima, grande parte por conta da ação dos seres humanos na natureza.
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Bruno Carbinatto
Super
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