A pandemia do coronavírus atingiu nesta sexta-feira mais de 125.000 casos registrados em todo o mundo. No Brasil, 98 casos da doença foram confirmados pelo Ministério da Saúde. Rio de Janeiro e São Paulo já apresentam caso de transmissão comunitária, ou seja, quando não é possível mais saber a origem da infecção. Por se tratar de um vírus novo (o Sars-Cov-2), muitas perguntas ainda estão sem resposta, assim como a criação de uma vacina e remédios específicos para o tratamento da doença. As estatísticas, porém, já mostram que essa é uma enfermidade com maior letalidade em idosos. E que, diferentemente de outras doenças, aparentemente as crianças não fazem parte do grupo de risco.
Com base nos casos registrados por todo o mundo, o Brasil, cuja primeira notificação ocorreu em 25 de fevereiro,
tem voltado suas recomendações de maior cuidado para proteger a faixa
da população a partir de 50 anos. “Não temos, neste momento, morbidade e
letalidade na população jovem, especialmente abaixo dos 50 anos”,
afirmou o médico David Uip, coordenador do Centro de Contingência do
Coronavírus do Estado de São Paulo, na quinta-feira. "Então estamos
muito focados nas populações mais vulneráveis, que são idosos”. Números globais mostram que a mortalidade em decorrência do coronavírus é de 15% a 18% nos idosos.
No
Brasil, o perfil de pessoas com a doença tem média de idade de 41 anos,
mas 49% dos casos confirmados até esta sexta-feira, 13 de março, estão
abaixo dos 40 anos. O Ministério da Saúde recomendou que idosos e
doentes crônicos comecem a restringir o contato social, principalmente
em cidades que já têm transmissão local da doença. Ou seja, com
infectados que não têm histórico de viagem ao exterior, mas que tiveram
contato com infectados vindos de outros países (atualmente, São Paulo,
Bahia e Rio de Janeiro se enquadram nessas características). Os idosos,
recomenda o Governo, devem a partir de agora evitar viagens, cinema
shoppings, shows e outros locais de aglomeração.
Guilherme
Henn, professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará, explica
que idosos têm maiores chances de complicações graves em qualquer
doença, infecciosa ou não, por duas razões principais. “O primeiro
grande motivo é porque o sistema imunológico desse público é mais
debilitado. Precisamos de um sistema ativo para combater doenças
virais”, diz. “O segundo ponto é que muitos idosos já não têm a saúde
dos órgãos tão boa, há mais comorbidades [doenças cardiovasculares,
diabetes ou doenças respiratórias crônicas, por exemplo] que trazem
complicações clínicas. Todos esses fatores complicam uma doença com
potencial de gravidade”.
A recomendação, portanto, é que
especialmente pessoas acima de 50 anos evitem se expor. “Se a epidemia
vier incisiva, eles devem evitar lugares públicos, grandes aglomerações,
porque formam o grupo que pode ter maiores complicações com a doença",
diz Juvêncio Furtado, chefe do departamento de infectologia do Hospital
de Heliópolis, em São Paulo. "Não quer dizer trancá-los em casa. Mas
devem evitar se expor nos próximos dois a três meses porque são mais
sensíveis”. A infectologista Rosana Maria Paiva dos Anjos, especialista
em saúde pública e professora da PUC São Paulo completa: “É importante,
inclusive, evitar visitas a abrigos e asilos. É preciso protegê-los”.
Gestantes
A
relação do coronavírus no organismo das mulheres grávidas, que
naturalmente apresentam alterações na imunidade durante a gestação,
também ainda está cercada de dúvidas. Na última segunda-feira, o Royal
College of Obstetricians and Gynaecologists, do Reino Unido, publicou orientações
para gestantes, mas também reforçou que, por se tratar de um vírus
novo, as informações podem ser revistas a partir do surgimento de novas
evidências. De maneira geral, “mulheres grávidas não aparentam ser mais
suscetíveis às consequências do coronavírus que o resto da população”.
Além
disso, diz o informe que ainda não há evidências de que a doença possa
aumentar as chances de aborto ou de partos prematuros. Assim como não há
evidências ainda de que o coronavírus possa ser transmitido da mãe para
o bebê. “Embora os dados estejam atualmente limitados, é tranquilizador
que não há evidências de que o vírus possa passar para o bebê durante a
gravidez”, escreve Edward Morris, presidente da associação. O mesmo
ocorre para a amamentação: não há evidências de que o vírus possa ser transportado pelo leite materno.
O
coronavírus é uma doença que ataca principalmente as vias
respiratórias, como explica o médico Jorge Luis dos Santos Valiatti. “A
doença provoca diretamente uma alteração na membrana que está entre o
alvéolo e o capilar pulmonar, essa membrana é agredida pelo vírus e
provoca uma reação inflamatória, levando a uma inflamação dos pulmões”,
diz. “A isso chamamos de dano alveolar difuso, e não há tratamento
específico por enquanto. O que se utiliza são protocolos clínicos
associados a drogas antivirais”.
O médico explica ainda que todo paciente com alguma síndrome respiratória grave deve ser entubado,
ou seja, colocado para respirar com aparelhos mecânicos. “Isso já
acontece, então não há nenhuma novidade com relação ao coronavírus”,
diz. “Temos visto que qualquer tentativa de uma intervenção conservadora
[como usar somente máscaras para respirar] não tem se mostrado
favorável nesses casos”. A preocupação, no entanto, ocorre justamente no
momento de entubar o paciente, já que nessas horas pode ocorrer o
contágio para o profissional de saúde, e, se certos critérios não forem
obedecidos, o paciente pode inclusive piorar. “Existe um protocolo para
não aumentar a lesão provocada pelo ventilador mecânico”, diz. “Se ele
for mal ajustado, podemos ainda aumentar a lesão nos pulmões”.
De qualquer forma, os infectologistas lembram que o mais importante agora é tentar controlar a propagação do vírus. “Por fim, cada um deve fazer a sua parte:
lavar mais as mãos, espirrar dentro da própria blusa, usar álcool gel,
mas com moderação, porque senão você pode acabar ferindo as mãos e abrir
o corpo para mais agentes", diz Rosana Paiva. “E lembrar que ainda não é
o momento de pânico. Ele pode chegar, mas ainda não estamos lá”.
conteúdo
Marina Rossi
Beatriz Jucá
São Paulo
El País
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