Bem diferente do que nós brasileiros estamos acostumados a ver e fazer no Dia de Finados, no México o Día de los Muertos (Dia dos Mortos) é uma festa, uma das maiores comemorações do país, que começa no dia 31 de Outubro e termina na noite do dia 2 de Novembro, embora possa se esticar até meados do dia 3 e 4.
Para os mexicanos, a morte é uma parte da
vida, e não um momento de tristeza. Eles creem que ao morrermos, as
almas vão para um lugar melhor – e por isso, não há motivo para chorar.
Só que no Día de los Muertos eles acreditam que as
almas têm permissão para voltar ao mundo dos vivos e reencontrar seus
entes queridos. Por isso esse dia é um motivo de festa para quem está
vivo – e passar um dia e uma noite celebrando esse reencontro é uma
forma de mostrar seu carinho e amor para os que passaram para o outro
lado.
São muitos os sentimentos que podem
explicar essa
data: um deles é que a vida, e a passagem do morto pelo
mundo dos vivos foi importante demais, que morreu e continua importante,
e que a morte verdadeira só acontece quando ele não for mais lembrado.
Por isso eles demonstram que esse amor continua a existir e que deve ser
exaltado com alegria.
Segundo a tradição, os mexicanos comemoram a data da seguinte forma:
- No dia 30 de outubro começam os rituais, que incluem acender uma vela preta em seu altar, que simboliza todas as almas;
- Do meio-dia de 31 de outubro ao meio-dia de 01 de novembro: celebra-se a chegada dos “angelitos”, as almas das crianças que se foram cedo. Neste dia, as velas dos altares são brancas;
- Do meio dia de 01 de Novembro ao meio-dia de 02 de novembro: celebra-se
a chegada das almas dos jovens e adultos. Nesse dia, as velas acesas
são coloridas, buscando assim homenagear os mortos de todas as idades.
Antigamente, nas pequenas cidades do
México, as
famílias enterravam os mortos debaixo de suas casas. Era uma
forma de mostrar que o morto continuava a fazer parte da família, mesmo
que sua alma estivesse em um lugar melhor. Assim, no Día de los Muertos,
as grandes ceias eram feitas em casa, pois se entendia que a família já
estava toda “reunida” e no mesmo lugar. Com o passar dos anos e como
não é mais possível enterrar os mortos em casa, as famílias seguem para
fazer sua ceia do Día de los Muertos no cemitério com a reunião de toda a família. Estranho, não é? Para nós! Mas, para eles não!
Em alguns lugares, existe um ritual em que a família vai para o cemitério e retira os ossos do morto do túmulo para limpa-los. Para
eles, limpar os ossos do morto é a demonstração máxima do amor que
ainda sentem. Após a limpeza os ossos são devolvidos ao túmulo.
Você já deve ter visto essa comemoração em algum filme, não é mesmo? O Día de los Muertos no México lembra o carnaval e ao mesmo tempo o Natal. Uma semana antes eles colhem umas flores chamadas Cempasuchil, que têm a cor laranja bem vivo. Aqui no Brasil eu a conheço com o nome de “Cravo de Defunto”. São as flores tradicionais da festa porque florescem nesta época do ano (também são conhecidas como ”a Flor de 400 pétalas” – já era usada pelos Maias – elas representavam o sol e seus raios de luz, os quais devem iluminar os mortos). Toda a comida da ceia é preparada com antecedência, embora algumas famílias façam
algumas guloseimas “in loco”. Ela é uma festa parecida com o carnaval
por conta das fantasias.
Na comemoração, eles levam ao cemitério todas as comidas que o morto gostava em vida. Geralmente, as oferendas servidas são o “Pan de Muerto” (um pão duro, mas gostoso e que, na região de Oaxaca, é típico que tenha a imagem de uma pessoa, homem ou mulher, adornando-o, simbolizando o morto), um chocolate em formato de caveira (chocolates são típicos da região de Oaxaca, já que era bebida tradicional das civilizações astecas), e Mezcal, uma bebida alcoólica mais forte que tequila – e ótima para espantar o frio durante a vigília de noite no cemitério. As caveirinhas feitas de açúcar também são comuns – elas são decoradas com glacê e algumas vezes têm o nome do morto escrito. Há também frutas frescas, água e outros doces.
Os mexicanos fazem isso porque as almas
atravessam um longo caminho, vindas do outro mundo, só para visita-los
nestes dias. Portanto, todas as comidas são como oferendas para
alimentá-las e agradá-las. Também dizem que como as almas vêm de um
mundo melhor, toda a comida oferecida deve ser de qualidade, como um
agrado.
É possível encontrar em todos os lugares a imagem de uma “mulher caveira”,
toda enfeitada, representada em quadros, esculturas, pinturas de rosto e
fantasias. Às vezes ela está vestida de noiva, às vezes vestida de
nobre da corte. Segundo a tradição, ela se chama Katrina e representa a Morte. Katrina é uma forma de mostrar, com humor, que a morte chega para todas as pessoas: ricas, pobres, apaixonadas, descrentes…
E porque, mais acima, disse que a festa
se parece também com o Natal? Por conta da ceia que fazem no túmulo –
que é todo decorado, com muitos enfeites, velas acesas, candelabro,
luzes, flores, comida, família reunida…
Para nós pode ser bem estranho – visitar
cemitério à noite! Mas, o estranhamento passa logo no início se você
estiver participando da festa! São muitas velas e em todos os lugares.
Todos os túmulos são enfeitados – com comida, adornos, velas, fotos –
tudo o que o morto gostava em vida, mostrando com respeito e, muitas
vezes de forma bem humorada. É uma festa cheia de amor e muito bonita. E
tem até uma disputa para ver quem decora melhor o túmulo familiar.
Não há tristeza. Há música, muita comida,
fantasias e risos. Tudo de forma muito respeitosa. As crianças também
se envolvem na arrumação dos túmulos. Muitas fantasiadas e sem medo
algum.
Pois é! O Día de los Muertos no México não tem nada a ver com o nosso Dia de Finados. Por lá, ele é cheio de vida! Já, aqui…
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Simplicidade das Coisas
Augusto Martini
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