Como se mede uma amizade? Você pode pensar nos seus melhores amigos como aqueles que estão há mais tempo com você, aqueles que vê com mais frequência ou com quem divide mais segredos. Mas pesquisadores americanos concluíram que a melhor forma de prever a qualidade da relação entre amigos é a interdependência de memória.
Para simplificar, pense no seu celular. Se você nasceu
antes dos aparelhos se tornarem populares, é bem capaz de ter decorado
números importantes de telefone. Depois que surgiram os contatos na
telinha, essas lembranças praticamente sumiram.
Isso é porque o cérebro otimiza a sua memória: se existe
uma fonte confiável de informação, ele não vai gastar energia
armazenando tudo. O que ele aprende é o melhor atalho para conseguir
aqueles dados.
Só que isso não acontece só com seu celular - acontece com
os amigos também. Sabe aquela história engraçada sobre vocês que seu
melhor amigo conta de um jeito muito mais completo? Seu cérebro se dá o
direito de esquecer os detalhes extras, porque sabe que pode contar com
alguém para lembrá-los caso seja necessário.
Especialistas chamam isso de "sistema de memória
transacional". Nessa rede de lembranças, você não precisa lembrar a
informação em si, só a frase "gatilho" que vai fazer a outra pessoa
recontar a história.
Em uma pesquisa recente,
psicólogos entrevistaram jovens sobre os seus melhores amigos e a forma
como eles trocavam memórias e conhecimento. Quanto mais dependentes
eles eram do sistema de memória transacional um do outro, melhor a
qualidade da amizade. Isso fazia mais diferença na intimidade entre eles
do que a quantidade de tempo que passou desde que se conheceram.
Um detalhe interessante (alerta: fofura extrema) é que esse
fenômeno foi percebido antes em casais de velhinhos. A memória deles se
tornava naturalmente defeituosa com a idade, mas quando estavam juntos,
a habilidade de recordar fatos autobiográficos aumentava muito - por
causa desse sistema de recordações interdependentes. Como um
quebra-cabeça, cada um adicionava um pedacinho.
Os pesquisadores acreditam que é por isso que, com
frequência, se um idoso tem Alzheimer ou morre, a memória do seu cônjuge
também sofre um baque grande: é como se parte da "fonte das memórias"
secasse.
Por último, os pesquisadores também descobriram que a
memória conectada varia de acordo com o gênero. Quando duas pessoas do
mesmo gênero são amigas, elas tendem a lembrar de assuntos parecidos -
assim, uma reforça a memória da outra. Já entre gêneros opostos, as
pessoas tendem a lembrar de fatos de diferentes áreas. Daí, o
conhecimento de um é complementar ao do outro.
Com isso tudo, a hipótese dos especialistas é que você provavelmente
deixe de aprender algumas coisas nas quais seus amigos já são bons. Se
um deles sabe muito sobre vinho, é possível que você aprofunde seus
conhecimentos sobre cerveja - e ligue para ele quando precisar de uma
indicação de uva. No fundo, para ser especialista em tudo, basta ser
próximo de pessoas que manjem daquilo que você não sabe.conteúdo
Ana Carolina Leonardi
Editado por Tiago Jokura
super
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