3% das pessoas não reconhecem vozes
Anna Marchant tinha uma vida normal - até sobreviver ao ataque de um assassino em série. Na fuga, ela caiu de uma ponte, bateu a cabeça e acabou desenvolvendo uma doença muito rara: a prosopagnosia, ou cegueira facial. Ou seja: Anna não consegue memorizar e distinguir rostos - se ela crusa o namorado na rua, não reconhece.
Essa história é roteiro de um filme bem famoso, Visões de um Crime, no qual Anna é interpretada por Milla Jovovich. Só por aí, já dá para ver que a prosopagnosia caiu na cultura pop: as pessoas conhecem essa doença, que atinge cerca de 1% da população mundial. Mas existe um "primo" da cegueira facial que é praticamente desconhecido: a agnosia auditiva, ou a inabilidade de reconhecer e distinguir vozes, mesmo as de pessoas familiares.
Há duas formas de manifestação da doença: ou a pessoa é incapaz de reconhecer vozes, ou é impossível para ela discriminar vozes - em todos os estudos que existem até agora, ninguém que sofre de agnosia auditiva tinha as duas dificuldades.
A doença já é velha conhecida da ciência: foi descrita pela primeira vez em 1982. Mas agora, um estudo do departamento de psicologia da Universidade da Califórina projeta, pela primeira vez, o número de pessoas têm a doença - 3% da população mundial. E eles também chegaram à conclusão de que a agnosia auditiva pode ser genética - embora também possa ser causada por um trauma, assim como a prosopagnosia.
Para descobrir isso, os cientistas fizeram um teste com 730 participantes (23 deles, acreditava-se, tinham a doença). As pessoas só precisavam fazer um exercício simples de reconhecimento e distinção de vozes de pessoas comuns e de celebridades (antes do teste começar, os cientistas confirmavam se os participantes sabiam quem eram as celebridades): a tarefa era ouvir alguns áudios com as diferentes vozes e identificar qual celebridade estava falando o que - ou, no caso das pessoas comuns, assinalar que eram pessoas sem fama.
Na média, as pessoas acertaram 76% de quem era a voz - mas 3,2% dos participantes (os 23 que, suspeitava-se, tinham a doença) foi muito abaixo da média: conseguiu acertar apenas 2,28%, ou seja, tinham a doença. Os cientistas também notaram que os sintomas da agnosia auditiva não afetavam só as pessoas de certa idade, mas também os participantes jovens, daí a hipótese de que é possível nascer com o distúrbio - embora ainda não se saiba exatamente por quê.
Claro, o estudo é pequeno, e os 3% encontrados pelos cientistas não passam de uma estimativa - provavelmente, o número de pessoas que têm a doença no mundo inteiro é bem menor.
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Helô D'Angelo
Editado por Alexandre Versignassi
super
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