Em uma indústria (a do entretenimento) que muitas vezes põe em confronto as mulheres, como divas, e destaca a amizade entre os homens, considerando-os colegas, é necessário e refrescante lembrar a luta de titãs que por anos mantiveram as duas sínteses absolutas da masculinidade no final do século XX: Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone. Uma briga que já terminou, mas voltou à tona graças a um artigo da Vulture publicado há um ano e que as redes sociais popularizaram novamente esta semana.
Em 1985, Arnold –também transformado em blockbuster graças aos dois filmes de Conan, o Bárbaro
(1982 e 1984) – disse de Sylvester em uma entrevista: "Eu me irritaria
se ouvisse o meu nome mencionado na mesma frase que o de Stallone. Ele
usa dublês de ação nas suas cenas. Eu, não". E1988, no entanto, ele
dizia que havia tentado ser amigo dele, mas ele não lhe dava "boas
vibrações”.
Naquele mesmo ano, quando
Sylvester se casou com Brigitte Nielsen, os rumores indicavam que ela
tivera um caso com Arnold. Alguns jornalistas em Hollywood chegaram a
afirmar que Arnold tinha se encarregado de promover o romance dela com
Sylvester para se livrar de Brigitte: nessa época, ele já estava bem
casado com uma Kennedy, Maria Shriver.
Stallone também não era um anjo: de acordo com um artigo do tabloide News of the World, publicado nos anos 80, ele estava por trás de rumores de que na juventude Schwarzenegger sentia simpatia por Hitler, rumores que chegaram ao The New York Times e à CNN. Além disso, muitos viram em seus filmes mais famosos dardos lançados em direção a seu rival. Em Rocky 4
(1985) havia um vilão russo, loiro e com um modo quase robótico de
falar (interpretado por Dolph Lundgren), que, para muitos espectadores,
parodiava Schwarzenegger. E em uma cena na prisão, em Tango & Cash – Os Vingadores
(1989), Stallone conta a um dos prisioneiros (o mais louco de todos),
pouco antes de esmagar seu rosto contra as barras: "Gostei de você em Conan, o Bárbaro!". Quem estrelou Conan, o Bárbaro? Schwarzenegger, claro (a propósito, filmado em Cuenca e Almeria, na Espanha).
Nos anos 90, as coisas pareciam
se acalmar. Stallone e Schwarzenegger deixaram de lado a rivalidade,
mesmo que apenas por dinheiro: juntos, criaram a rede de cafeterias Planet Hollywood (que teve uma filial Madri durante anos). E as referências de um ao outro em seus filmes continuaram, mas em tom de humor: em O Último Grande Herói (1993), estrelado por Schwarzenegger, havia um pôster de O Exterminador do Futuro com o rosto de Stallone. E em Demolidor,
durante uma conversa com Sandra Bullock, Stallone descobre que os EUA
tiveram um presidente chamado Schwarzenegger. "Mas, ele era presidente?"
"Sim, apesar de não ter nascido neste país", responde Bullock.
A relação entre os
dois pareceu ter se tornado mais próxima à medida que suas estrelas
perdiam o brilho o tipo de filmes de ação superlativa deixava de ser
moda. No início deste século, um deles se afastou da interpretação para entrar na política (Arnold)
e outra vivia sua fase de menor relevância profissional (Sylvester). Os
dois voltariam à glória graças à exaltação nostálgica da saga Os Mercenários: no segundo filme, em 2012, eles dividiram pela primeira vez a tela. E em 2013, os dois estrelaram juntos Rota de Fuga.
Um filme que foi um fracasso nos Estados Unidos, mas não no restante do
mundo, onde os dois ainda pareciam exercer atração entre um público que
sentia falta de seus ídolos da infância.
Mas o golpe de misericórdia
veio em outubro de 2017. Um jornalista do site Slashfilm participou de
uma sessão de perguntas e respostas com os fãs, que Schwarzenegger
realizava em homenagem ao 30º aniversário do Predador. Sua longa rivalidade com Stallone foi uma das questões-chave, e o ator não se esquivou.
"Estou feliz por termos aparado
nossas diferenças porque aquilo não era agradável", confessou o astro
de ação. "Estávamos atacando um ao outro na mídia sem parar. Nós nos
insultamos e apontávamos os pontos fracos do outro. Era tão competitivo.
Tornou-se algo tão absurdo que, de repente, estávamos discutindo para
ver quem tinha o corpo mais musculoso, quem usava a maior arma ou quem tinha a faca mais afiada.”
A boa notícia vem agora:
Schwarzenegger confirmou um boato que corre em Hollywood há anos e
contou que, graças a ele, ou melhor, por culpa sua, Stallone aceitou o
que é provavelmente o pior filme de sua carreira e um dos piores da
história de Hollywood: Pare! Senão Mamãe Atira
(1992). A trama? Um policial solteiro e mulherengo recebe a visita da
mãe, Tutti, que o trata como uma criança e testemunha o crime de um
peixe graúdo no mercado negro de armas. Depois disso, ela se torna uma
estranha parceira de investigação do filho. A mãe, a propósito, era a
grande comediante Estelle Getty, Sofia em Supergatas. Mas nem ela conseguiu salvar o filme.
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Naquela época era comum que os
dois astros da ação lutassem pelos projetos mais apetitosos. E a lenda
diz que, quando o roteiro de Pare! Senão Mamãe Atira chegou a
Schwarzenegger, ele o achou horroroso, claro, mas resolveu vazar para a
imprensa que estava muito interessado, para que Stallone brigasse por
ele e acabasse sendo o protagonista.
"É verdade", respondeu Arnold.
"Li o roteiro. Era tão ruim! Também fiz filmes pestilentos, eu sei, mas
aquele era realmente muito ruim. Então eu disse para mim mesmo (isso foi
quando eu e Sylvester não nos dávamos bem): vou fingir que tenho um
tremendo interesse neste roteiro. Sei como Hollywood funciona.
Então, pedi uma quantia indecente de dinheiro. Dessa forma, eles
diriam: 'Vamos dá-lo para Sylvester, talvez possamos contratá-lo por
menos.' E eles lhe disseram: 'Schwarzenegger está muito interessado,
aqui estão os recortes de imprensa em que ele fala sobre o projeto. Se
você quiser fazer e pegar o projeto, estará disponível para você. E ele
fez! Ele fez de verdade. Uma semana depois, eles me disseram: 'Sylvester
assinou para fazer o filme'. E eu levantei meu punho e gritei: 'Sim!'”
Um golpe de mestre Pare! Senão Mamãe Atira foi um fracasso de bilheteria. Fizeram mil piadas sobre ele, tanto em Os Simpsons como em Saturday Night Live. Stallone disse em uma entrevista em 2012 que aquele foi "talvez um dos piores filmes do sistema solar,
incluindo filmes alieníginas que não vimos. Um verme poderia ter
escrito um roteiro melhor". E então ele brincou: "Em alguns países, acho
que na China, eles transmitem o filme na televisão uma vez por semana
para conseguir que a taxa de natalidade permaneça em zero. Se exibirem
duas vezes por semana, acho que a China seria extinta em vinte anos.”
conteúdo
Guillermo Alonso
El País
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