Sabe aqueles indivíduos que acham que só a própria opinião é válida? Além de serem mais propensos a se superestimarem, há boas chances de eles saberem até bem menos que as outras pessoas – justamente por causa dessa visão enviesada sobre o conhecimento que possuem.
Foi isso o que descobriu uma pesquisa da Universidade de Michigan recentemente publicada no Journal of Experimental Social Psychology.
O objetivo era entender, por meio de cinco estudos com algumas centenas de participantes (o número variava a cada estudo, mas eram todos adultos e dos Estados Unidos), se eles de fato sabiam mais do que o resto das pessoas – ou se pelo menos usavam estratégias melhores para buscar informação.
No primeiro teste, os pesquisadores perguntaram aos voluntários sobre as suas crenças a respeito de vários temas políticos, incluindo o quanto eles achavam que sabiam sobre esses tópicos e o quanto se sentiam mais ou menos esclarecidos do que outras pessoas. Depois, cada um precisou resolver quizzes para provar seus conhecimentos reais sobre essas questões.
A conclusão? No caso daqueles que se achavam mais espertos ou “iluminados” que os outros, o conhecimento que de fato possuíam era inferior ao que achavam ter. Por outro lado, os participantes mais humildes às vezes até subestimavam o quanto sabiam.
Busca de informações confiáveis
Bom, então os supostos sabe-tudo não sabiam tanto assim. Mas talvez eles estivessem correndo atrás desse conhecimento. Foi isso o que os autores quiseram tentar entender.Para isso, em um segundo teste, foi apresentada aos voluntários uma série de artigos e notícias sobre determinado tema político – alguns apoiando e outros desafiando a ideologia de cada um.
Quando tiveram que escolher quais artigos gostariam de ler, as pessoas que acreditavam na sua superioridade de crenças eram significativamente mais propensas a escolher informações que sustentassem suas opiniões.
E eles faziam essa escolha de modo consciente, sabendo que estavam buscando fontes enviesadas. “Pensávamos que, se as pessoas menos modestas mostrassem uma tendência a buscar um conjunto equilibrado de informações, elas poderiam afirmar que chegaram à sua suposta superioridade de crença por meio de um pensamento crítico e ponderado sobre os dois lados da questão”, diz Michael Hall, principal autor do estudo.
Mas as pessoas estavam fazendo justamente o contrário: ao consumir coisas de fontes que apoiavam seu ponto de vista, elas perdiam a oportunidade de questionar suas crenças e ampliar seus conhecimentos.
Um viés que todo mundo tem
Antes de compartilhar este post para dar aquela alfinetada no seu amigo (pode fazer isso, sim, mas leia até final), vale dizer que, embora algumas pessoas sejam menos modestas que outras, todo mundo gosta de ter as próprias crenças confirmadas e pode cair na armadilha de só ler aquilo que contribui para isso.“Ter suas crenças validadas é bom, enquanto ter suas crenças desafiadas cria desconforto, e esse desconforto geralmente aumenta quando suas crenças são fortes e importantes para você”, diz Kaitlin Raimi, coautora do estudo.
A parte boa é que o estudo também descobriu que, embora seja difícil, não é impossível fazer com que a pessoa se dê conta de que seu conhecimento não é tão grande quanto ela pensa e, assim, fazer com que o seu sentimento de superioridade diminua.
E o melhor é que, quando esse sentimento diminui, também cai a sua tendência a buscar informações enviesadas. “Quando a superioridade de crença é reduzida, as pessoas recorriam a fontes de informação que poderiam ter sido consideradas inferiores anteriormente”, diz o estudo.
Em outras palavras, a ignorância tem cura – desde que o orgulho seja deixado de lado.
conteúdo
Ana Prado
super
(Via Futurity.org e Universidade de Michigan).
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