O Caribe mal começava a se recuperar dos estragos provocados pelo furacão Irma, que deixou cerca de 60 mortos, quando foi atingido pelos ventos de até 260 km/h do furacão Maria.
No sul da Ásia, inundações provocadas pelas chuvas de monções mataram mil pessoas em Bangladesh, Índia e Nepal.
É impressão ou os desastres naturais estão mais frequentes e intensos em 2017?
A resposta é que no caso dos furacões, sim. A quantidade e intensidade das tempestades de grandes proporções registradas este ano estão acima da média anual.
A principal causa para o aumento da força desses fenômenos é o aquecimento global, segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Acima da média
Shuai Wang, pesquisador da Faculdade de Ciências Naturais do Imperial College London, explica que a média anual de furacões no Atlântico é de 6,2, conforme a série histórica de 1968 a 2016 da Agência Norte-Americana de Administração Atmosférica e Oceânica.Em 2017, antes mesmo do término do período de tempestades tropicais, já foram registrados sete furacões, quatro deles de grande proporções - classificados em categorias superiores a 3 na escala Saffir-Simpson, que mede os fenômenos pela intensidade dos ventos e o potencial de destruição.
"Ainda é cedo para sabermos a quantidade de furacões que teremos em 2017. Mas já podemos dizer que tivemos tempestades mais intensas que a média histórica", diz Wang.
Em agosto, o furacão Harvey provocou estragos no Texas, Houston e Louisiana, matando pelo menos 47 pessoas. Pouco depois, entre nos dias 6 e 7 de setembro, o furacão Irma arrasou várias cidades do Caribe e o sul da Flórida, provocando mais de 60 mortes.
Numa infeliz coincidência, a mesma região afetada pelo Irma se tornou rota do furacão Maria. Os ventos de até 260 km/h destelharam casas na ilha de Dominica - até o primeiro-ministro do país teve que ser resgatado da residência oficial.
O furacão também passou por Porto Rico e pelas Ilhas Virgens Norte-Americanas.
Altas temperaturas
O meteorologista Bob Hensen, do Weather Underground, serviço norte-americano de previsão meteorológica, diz que as altas temperaturas do oceano alcançadas este ano podem ter contribuído para a força das tempestades."Já alcançamos, antes de terminar o ano, mais tempestades que a média do ano inteiro", disse.
Segundo Hensen, por causa das mudanças climáticas, a intensidade dos furacões aumentou nas últimas três décadas. O ano de 2005 foi o que mais registrou furacões - 15 no total, entre os quais o Katrina, que matou ao menos 1,8 mil pessoas nos Estados Unidos.
"Podemos estar tendo furacões mais fortes associados ao fenômeno do aquecimento global. A temperatura da água afeta a intensidade da tempestade, embora não haja evidência de que influencie na quantidade", avaliou.
A opinião de que o aquecimento global tem papel relevante na intensidade dos furacões é compartilhada pelo pesquisador Shuai Wang, que prevê tempestades cada vez mais fortes se nada for feito para reverter o aumento da temperatura dos oceanos.
"O furacão é como um motor que precisa de combustível. A lógica é que, com a mudança climática, o oceano fica mais quente e gera mais energia para o ciclone, que acaba causando mais estragos quando alcança o continente", explicou.
"Os pesquisadores divergem sobre o efeito a longo prazo do aquecimento global. Eu acho que, se a temperatura continuar aumentando, teremos ciclones mais intensos", completou Wang.
Lógica parecida serve para desastres causados por excesso de chuvas, as chamadas monções. Para Bob Hensen, a intensidade pode ter aumentado por causa do aquecimento solar.
"Temperaturas mais altas favorecem a evaporação das águas. O ambiente úmido da atmosfera permite chuvas mais fortes."
Terremotos
Quanto a terremotos como o ocorrido no México na terça, os números não mostram aumento ao longo dos anos, e a intensidade está dentro da média histórica.De acordo com o British Geological Survey, o centro britânico de geociências, todo ano ocorrem, em média, 15 terremotos com magnitude maior que 7, considerados de grande proporção.
Até o momento foram registrados seis terremotos com magnitude superior a 7, segundo dados atualizados da organização não governamental World Earthquakes, que categoriza registros de abalos sísmicos em todo o mundo.
Em 2016, foram registrados 17 terremotos com magnitude maior que 7.
Nathalia Passarinho
BBC Brasil
Londres
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