A saga do corpo embalsamado de Evita Perón



Descansar em paz, definitivamente, não foi o que a líder argentina fez depois de sua morte.
Eva Perón, que foi atriz e depois se casou com o ícone populista Juan Domingo Perón, era venerada pelas classes mais baixas de seu país por seu engajamento em causas sociais. Ela até hoje é motivo de inúmeras homenagens pelas ruas argentinas.
Depois de uma vida política intensa, ela morreu em 1952, de forma precoce, aos 33 anos, por causa de um câncer no ovário. Na época, seu corpo foi embalsamado e exposto publicamente. Calcula-se que mais de dois milhões de argentinos tenham comparecido a seu velório.Três anos após a sua morte, em 1955, a saga de Evita recomeçou. Ela foi personagem de outra história, quase tão intrigante quanto aquela que teve em vida: em 22 de novembro daquele ano, o corpo da ex-primeira dama desapareceu, no meio da noite, da sede do CGT, maior sindicato peronista da Argentina.
Alguns meses antes, um golpe de estado havia derrubado seu marido, o general Juan Domingo Perón do poder, e acredita-se que o sequestro do corpo tenha sido uma tentativa dos novos governantes de evitar que o corpo de Evita virasse um símbolo de resistência para a população.

Inicialmente, o corpo embalsamado da Sra. Perón foi mantido em um veículo que circulava pelas ruas da cidade de Buenos Aires. Entre os envolvidos nessa parte do “plano” estava o tenente-coronel Carlos Eugênio de Moori Koenig, que dirigia o furgão onde estava Evita. Acredita-se que ele chegou a se “apaixonar” por ela, o que fez surgir a necessidade de um novo plano.

O cadáver chegou, também, a ser guardado dento do sistema de água da cidade e até atrás de uma tela de cinema. Por causa da precariedade de ambos os esconderijos, o major Eduardo Arandía “hospedou” Evita por um período no porão de sua casa – mas não contou nada para sua esposa, que estava grávida. Curiosa, algum tempo depois ela resolveu verificar o que o marido escondia. Arandía, assustado e com medo de que algum peronista quisesse resgatar o corpo, atirou contra o vulto que se aproximava do porão, assassinando a própria mulher.

Era hora de escolher um novo esconderijo. O corpo foi encaminhado, então, para os escritórios da Agência Secreta Militar. No entanto, onde quer que fosse escondido, ele sempre aparecia rodeado de velas e flores, um sinal de que a população não estava disposta a esquecer tão cedo de Evita.

Tempos desesperados pedem por medidas desesperadas: em 1957, os militares decidiram, com a ajuda secreta do Vaticano, enviar os restos mortais da Sra. Perón para a Itália, onde foram sepultados em Milão, com um nome falso.

Assim que a notícia do desaparecimento do corpo se espalhou, começaram a aparecer pichações pelos muros de Buenos Aires que perguntavam “Onde está o corpo de Evita?”.

Em 1971, a Argentina sofria com a crise econômica e o governo tentava reconquistar o apoio das massas. Por isso, o partido peronista foi novamente legalizado, e o corpo de Evita foi desenterrado e enviado para a Espanha, onde Juan Domingo Perón vivia exilado com sua nova esposa, Isabelita.

O corpo já não estava intacto: um dos dedos das mãos estava faltando (acredita-se que ele tenha sido arrancado por militares, na tentativa de verificar se aquele era mesmo o corpo de Evita). Havia, também, um afundamento no nariz, alguns sinais de golpes no rosto e no peito, marcas nas costas e um machucado, um pouco maior, no joelho. Até hoje, não se sabe o que aconteceu com o corpo para que ficasse nesse estado.

Em 1973, Juan Domingo e Isabelita finalmente puderam retornar à Argentina. Em seguida, ele foi eleito presidente, com sua Isabelita como vice na chapa. Um ano depois, Perón faleceu e deixou sua esposa no comando do Estado. Ela foi a responsável por supervisionar o retorno do corpo de Evita Perón para Buenos Aires, depois de quase duas décadas “sequestrado”. Atualmente, o corpo está junto aos túmulos da família Duarte (sobrenome de solteira de Evita), no famoso cemitério da Recoleta, em Buenos Aires.

Júlia Matravolgyi
Fonte: BBC e Superinteressante.

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