Apenas 537 votos na Flórida. Em uma
eleição com mais de 100 milhões de votos, esse foi o número que permitiu
ao republicano George W. Bush vencer o democrata Al Gore e ser eleito
presidente dos Estados Unidos em 2000.
Por causa de exemplos
assim, os candidatos não podem ignorar certos setores da sociedade ─
embora a eleição presidencial americana seja muitas vezes descrita como
um exercício para atrair o maior número possível de eleitores.Conheça, a seguir, cinco grupos, de diferentes portes, que podem fazer a diferença na corrida eleitoral do próximo dia 8 de novembro, quando os americanos vão às urnas escolher entre a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump para suceder Barack Obama.
1) Homens brancos sem diploma universitário
As pesquisas mostram que esse é o núcleo dos eleitores de Trump. As posições do republicano sobre acordos de comércio e imigração seriam compartilhadas por eles.Mas a questão é: "Existe um número suficiente deles, especialmente nos chamados Estados-pêndulo, para dar a vitória a Trump?"
Para Don Levy, diretor do Instituto de Pesquisa do Siena College (Nova York), Trump teria que conquistar uma "margem extremamente ampla" dessa parcela do eleitorado.
Aliados do candidato estão otimistas de que isso pode acontecer e se baseiam em dois cenários que se complementam:
1) Muitos desses eleitores, que ficaram em casa em eleições anteriores, desta vez vão às urnas para votar em Trump.
2) Alguns dos prováveis eleitores de Trump não são honestos com os entrevistadores sobre suas intenções de voto, uma vez que seu candidato não é "politicamente correto".
Levy, que realiza pesquisas no Estado de Nova York, diz que não concorda com nenhum dos cenários.
Segundo ele, em suas sondagens, os entrevistados não têm sido relutantes em expressar o seu apoio a Trump, ficando muitas vezes um longo tempo no telefone com os pesquisadores para explicar o motivo de seu apoio ao empresário.
E, diante de uma corrida eleitoral com candidatos tão impopulares, Levy acredita que haverá uma baixa participação, em vez de uma onda de novos eleitores.
Outro fator importante destacado pelo especialista é que, para chegar à Casa Branca, Trump precisa conquistar não só os votos desses homens, mas também os das mulheres deles.
"Fala-se muito sobre o voto do "homem branco que está farto", diz Levy.
"Trump apela para esse grupo, sem dúvida. Mas muitos desses homens brancos fartos são casados. Trump também precisa atrair a 'esposa branca do homem farto'", explica o especialista.
O candidato enfrenta rejeição de grande parte do eleitorado feminino, principalmente entre as mulheres que têm um alto nível educacional ─ o que nos leva ao segundo grupo.
2) Mulheres brancas com diploma universitário
Esse grupo, que tradicionalmente apoia o Partido Republicano, vem deslocando seu apoio de forma contínua para os democratas.Pesquisas qualitativas indicam que mulheres com um nível mais alto de educação desistiram de votar em Trump após algumas declarações polêmicas do candidato durante a campanha.
Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Pew mostrou que o republicano afastou uma grande parcela desse eleitorado quando zombou de uma jornalista com deficiência.
O mesmo aconteceu quando o candidato deu a entender que a jornalista Megyn Kelly, âncora da Fox News, estava menstruada durante um debate nas primárias.
Todas essas polêmicas têm levado alguns Estados decisivos, como Virgínia e Colorado, a dar uma provável vitória a Hillay. Ambos têm eleitores com alto nível educacional: 43% dos moradores do Colorado têm graduação, por exemplo.
Trump afastou as mulheres de forma bastante eficaz, diz o pesquisador Harry Wilson, do Roanoke College (Virgínia).
"E uma vez que as pessoas se voltam contra você, é difícil ganhá-las de volta", avalia Wilson.
3) Republicanos anti-Trump
Em meados de julho, Trump subiu nas pesquisas. Na ocasião, considerou-se que ele poderia conseguir uma vitória apertada com o apoio de uma coalizão republicana unida.Mas sua popularidade caiu um mês depois, na esteira da repercussão de uma série de comentários polêmicos do candidato.
Frank Luntz, especialista em pesquisas qualitativas e focus groups para as redes de TV americanas Fox News e CBS, analisa a perda de eleitores de Trump. Segundo ele, trata-se de um grupo grande, predominantemente formado por jovens e mulheres.
O especialista acredita que os potenciais eleitores do empresário teriam sido atraídos inicialmente pela mensagem de que "o sistema está quebrado" combinada com a necessidade de eleger alguém de fora da política "para arrumar Washington".
"Mas agora eles veem Trump como uma pessoa mesquinha, desagradável e cheia de ódio", diz Luntz.
O republicano poderia tentar recuperar esses eleitores, mas o especialista não acredita que o candidato vai usar o tempo que lhe resta com sabedoria.
Para Luntz, Trump não tem o foco necessário para sustentar a mensagem de mudança que atraiu esses aliados, agora descrentes.
"Quanto mais você está farto do sistema, mais provável votar em Trump, não importa onde você se encontre no tabuleiro político", acrescenta.
4) Porto-riquenhos
Nos últimos anos, Porto Rico foi atingido por uma crise econômica, o que levou muitos residentes do território americano a se mudarem para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades.Muitos se instalaram na parte central da Flórida e podem fazer a diferença no Estado, profundamente dividido.
Mike Binder, professor de Ciência Política na Universidade do Norte da Flórida, estima que mais da metade dos novos eleitores registrados no Estado desde 2012 é latina, sendo muitos deles porto-riquenhos.
Apesar de dominada pela comunidade cubana, a Flórida apoia tradicionalmente o Partido Republicano. Em 2012, no entanto, o democrata Barack Obama venceu no Estado por 74 mil votos.
Em 2016, a crescente população porto-riquenha, aliada às propostas de imigração de Trump ─ que alguns veem como antilatinas, podem fazer a balança pesar para o lado democrata.
Esses novos eleitores podem não constituir o maior bloco de votantes na Flórida, mas uma pequena vantagem pode se traduzir em vitória.
As pesquisas sugerem uma disputa extremamente acirrada entre Hillary e Trump no Estado.
5) Mórmons
Enquanto alguns grupos cristãos têm tolerado ou mesmo visto com bons olhos a figura de Trump, os mórmons, eleitores tradicionalmente republicanos, têm rejeitado por completo o magnata.Minoria religiosa que já foi perseguida, os mórmons se sentiram profundamente atingidos pela proposta de Trump de proibir temporariamente muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos.
As pesquisas mostram que Utah, Estado que não elege um democrata desde 1960, já não é um zona tão segura para os republicanos.
Outros dois candidatos, o independente Evan McMullin e o libertário Gary Johnson, têm sua base em Salt Lake City, capital de Utah.
A identificação dos mórmons com esses candidatos alternativos torna ainda mais difícil para Trump conseguir até mesmo uma vitória apertada no Estado.
O fator mórmon e a crescente população latina também podem influenciar o resultado no vizinho Estado do Arizona, onde as pesquisas indicam uma disputa acirrada, com Hillary à frente em algumas sondagens.
Tim Swift
BBC News
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