Criado para concorrer com a já extinta Gazeta Mercantil, após investimentos iniciais de US$ 50 milhões, o equivalente hoje a R$ 165 milhões, o jornal Valor Econômico teve metade de suas ações vendidas por apenas R$ 20 milhões, segundo informações da coluna Radar.
Antes uma joint-venture
entre os grupos Folha e Globo, o jornal será, agora, integralmente
controlado pela família Marinho. Com isso, o Globo terá o monopólio da
imprensa brasileira diária dedicada ao setor de economia e negócios, uma
vez que outro concorrente lançado após o Valor, o Brasil Econômico,
também fechou suas portas.
O negócio chama a atenção
por várias razões. A primeira delas, o valor irrisório da venda, que
revela a descrença da Folha na imprensa em papel. O que se comenta é
que, além de desentendimentos relacionados ao Valor Pro, um serviço de
informações em tempo real, que consumiu investimentos de R$ 131 milhões
nos últimos três anos, a Folha não pretendia arcar com os custos de
demissões no jornal.
Outro aspecto importante é
o fato de a família Marinho, que teve papel decisivo na construção do
ambiente para o golpe parlamentar de 2016, agora monopolizar as
informações econômicas no Brasil – o que representa um risco para as
próprias empresas e também para os trabalhadores. O
modelo de desenvolvimento defendido pela Globo, em geral, é
subserviente a interesses internacionais e ao capital financeiro. A
Globo, por exemplo, foi apoiadora dos governos tucanos, que levaram o
Brasil três vezes ao FMI e fez sistemática campanha contra o
ex-presidente Lula, que fez com que o País conquistasse o grau de
investimento.
Nos dias atuais, depois
de uma intensa sabotagem contra a presidente Dilma Rousseff, a Globo e
seus colunistas tentam criar uma falsa percepção de que a economia
estaria melhorando, quando, na verdade, todos os indicadores se
deterioram – a esse respeito, leia artigo de Miguel do Rosário aqui.
Ao controlar 100% do
Valor, a Globo também fará de tudo para impor custos pesados às
empresas, impedindo que o Brasil se modernize. Hoje, o Brasil é um dos
únicos países do mundo que exigem que as companhias abertas publiquem
seus balanços, fatos relevantes e editais em jornais impressos. Em plena
era digital, em que os acionistas são conectados, trata-se de um
gigantesco desperdício de recursos, sem falar no impacto ambiental. Como
essa é a principal receita do Valor, a Globo fará de tudo, nos
bastidores, para impedir mudanças na lei, que já foram defendidas até
pela Comissão de Valores Mobiliários.
Leia, abaixo, o anúncio feito pelo próprio Valor sobre a mudança societária:
Grupo Globo assume controle integral do 'Valor'
O Grupo Globo comprou os 50% de participação que o Grupo Folha detinha na Valor Econômico S.A., empresa que edita o Valor.
O acordo foi anunciado ontem, pelas duas companhias, por meio de
comunicado. Os detalhes financeiros não foram divulgados. Com a
transação, que está sujeita à aprovação pelo Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade), o Grupo Globo passa a deter integralmente o
negócio.
Lançado em 3 de maio de 2000, o Valor
tornou-se rapidamente o maior jornal de economia e negócios do país. O
investimento inicial foi de US$ 50 milhões. A redação foi comandada pelo
jornalista Celso Pinto até 2003. Desde então, é dirigida por Vera
Brandimarte, que também participou da equipe que concebeu a publicação.
Em julho deste ano, a circulação paga do Valor
foi de 61.184 exemplares, segundo o Instituto Verificador de Circulação
(IVC). No mesmo mês, a audiência digital ultrapassou 50 milhões de
páginas vistas, com mais de 2 milhões de usuários. Números preliminares
de agosto indicam aumento de 10% em usuários. O tempo médio de
permanência no site do Valor é de meia hora por usuário/mês, mais que o dobro do segmento de notícias.
Em 2014, foi o lançado o Valor PRO,
serviço de informação em tempo real destinado a ajudar na tomada de
decisões em bancos, empresas de investimento e grandes companhias. Entre
os serviços oferecidos na plataforma estão o Valor Empresas, que reúne
uma base de dados com os balanços de 5 mil companhias de capital aberto e
fechado, e o Valor Política, de acompanhamento de projetos em andamento
no Congresso Nacional e em agências reguladoras.
No ano passado, o Valor
foi o único entre os grandes jornais brasileiros a não registrar perda
de receita em relação a 2014. Em um dos piores anos para a mídia, voltou
a apresentar Ebitda positivo, bateu as metas estabelecidas pelos
acionistas e apresentou até mesmo um pequeno crescimento na receita de
publicidade noticiário.
Brasil 247
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