O governo provisório de Michel Temer parece ter surgido das brumas, das catacumbas, das sombras do passado medieval.
Os ministros, na foto do momento das assinaturas de posse, parecem seres de outros tempos. Cheiram naftalina.
Os primeiros movimentos
deles estão destoando completamente do Brasil cidadão, da afirmação de
direitos, da solidariedade social.
Enquanto conspirava para
derrubar a Presidenta Dilma, por detrás das cortinas, com Eduardo Cunha
e Aécio Neves, Temer vinha a público dizer para microfones e câmeras,
com aquela voz nosferática, que o Brasil precisava de um líder e de um
governo que unisse o país.
Isso tornou-se um bordão martelado todos os dias pela mídia senhorial. Muita gente acreditou.
Com isso, criou-se, em
quem defendia o afastamento de Dilma, uma expectativa muito grande de
que Temer fosse nomear um ministério de notáveis, como ele mesmo andou
dizendo, para fazer algo muito melhor para o povo.
Mas, por incrível que
pareça, Temer demonstrou exatamente o contrário, liderança zero. É
fraco, nomeou um ministério fraco, é titubeante, está tomando decisões
erradas, tendo que voltar atrás.
Ao invés de unir, como
dizia, aprofundou ainda mais a divisão do país, provocando mais revolta,
agora com forte reação negativa do povo que foi às ruas de camisa
amarela.
Se fosse reconhecido nele
a capacidade de unir o país, certamente não teria ouvido tantos “nãos”
aos convites para compor o governo.
Nem o tal mercado se
empolgou. A bolsa cai e o dólar sobe todos os dias depois que ele
assumiu. O governo provisório é um fracasso.
Temer extinguiu
ministérios e órgãos da área social, como o Ministério da Cultura, do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, do Desenvolvimento Agrário, as
secretarias de participação de mulheres, negros, indígenas, e montou um
governo de homens brancos para homens brancos, cortou recursos das
áreas da saúde, da educação, de programas como Minha Casa Minha Vida, e
nomeou um ministério de negócios. Ou seja o povo que se dane.
Os ministérios da área
social foram órgãos criados exatamente para consolidar e prover direitos
sociais garantidos pela Constituição de 1988.
No governo, a força dos
negócios e dos interesses privados é que dão as cartas, foi o que moveu o
golpe. Por trás dos articuladores do golpe estão mega
corporações nacionais e internacionais.
Temer mais parece um office boy
do poderoso presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, e do poderoso
José Serra, ministro interino de Relações Exteriores, a assinar medidas
para privatizações e outras iniciativas.
Na verdade, os tucanos
estão usando o PMDB para executar o programa deles. Eles não entraram no
governo, exceto José Serra, que está com um pé no PMDB, mas estão
mandando ver, arquitetando o pacote de privatizações do patrimônio
público e a terceirização de serviços públicos.
Uma parte da equipe
econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, hoje banqueiros,
(Armínio Fraga, Gustavo Franco, Lara Rezende, Pércio Arida, e outros)
devem estar esfregando as mãos, aguardando as privatizações de empresas
como a Petrobras e a entrega definitiva das reservas do Pré-Sal, das
empresas de energia, bancos públicos e outros negócios.
Como fizeram com a Vale e
outras empresas, no Governo Fernando Henrique, vendidas a preço de
banana, pelos mesmos que estão hoje na banca, agora como possíveis
compradores ou negociadores de corporações internacionais.
Os ministros da Educação e
da Saúde mandaram avisar que irão privatizar, terceirizar segmentos
desses serviços públicos, também direitos garantidos pela Constituição
de 1988,
Essa ofensiva não está
acontecendo só no Brasil. Na Argentina também. Estão tentando
criminalizar a ex-presidenta Cristina Kirchner.
As nações centrais sempre
tiveram profundos vínculos econômico-financeiros com as nações
periféricas por meio de suas corporações transnacionais.
Nos momentos de crise,
como o que o mundo atravessa, com efeitos extremamente perversos sobre
as economias mais vulneráveis, as nações centrais buscam nas nações
periféricas compensações de suas perdas em negócios como os que estão se
estabelecendo no Brasil com o governo Temer.
Desde os tempos
coloniais, as nações periféricas contam com uma categoria nativa, não
proprietária, de gerentes de interesses estrangeiros.
São tipos que transitam
na política e estão sempre participando de governos, principalmente no
comando de áreas estratégicos. Não gostam de pagar impostos, se
dizem inimigos do Estado, pero no mucho. Sempre contam com a proteção, a salvação do Estado.
Não costumam ter nenhum
compromisso com a cidadania, com as populações desfavorecidas, haja
visto o corte de ministérios na área social. O negócio deles é negócio.
São eles que bancam
golpes, que querem repassar, para os trabalhadores, os prejuízos da
crise e defendem com unhas e dentes as margens de lucro de suas empresas
empresas.
Eles estão recorrendo a
modelos econômicos do passado, que fizeram outro grande estrago no
mundo, nos anos 1990, e que sucumbiram na crise de 2008, quando a torre
da especulação financeira desmoronou nos EUA, levando à falência grandes
bancos e grandes empresas, e ,de roldão, as demais economias de todo o
mundo, da qual o Brasil sofre os efeitos danosos até hoje.
Trata-se de um modelo
baseada em ideias derrotadas, que os adeptos insistem em aplicar aqui
novamente. São ideias do passado, que regeram o governo Fernando
Henrique, e quebrou o Brasil três vezes, levando o país às profundezas
do inferno, a um dos períodos mais dramáticos da economia brasileira,
nos fatídicos anos 1990, com desemprego estrutural, inflação recorde e a
taxas negativas de crescimento.
É esse passado que saiu
das brumas, das catacumbas, das sombras do passado, com Michel Temer,
José Serra e Eduardo Cunha à frente, que está assustando o país.
Eles querem a sociedade
da ganância, de gente estúpida, egoísta, individualista e competitiva.
Querem a sociedade da “Ordem e Progresso”, na qual todos baixam as
cabeças, não reclamam, trabalham, produzem, consomem, e deixam o destino
nas mãos deles.
Mas parece que não vão conseguir viver na luz da democracia. Vão se cegar e voltar para as sombras medievais de onde vieram.
Laurez Cerqueira
Brasil 247
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