Coluna da Andry Simão - A Referência do Amor




A Referência do Amor

Quando pequena,  adorava brincar de boneca. Gostava de vestir, trocar, dar comidinha, embalar, fazer dormir. Sentia prazer em cozinhar, limpar, passar, costurar, tendo como guia e inspiração a melhor e mais forte mulher de todas, minha mãe. Sempre a vi se anular por mim e minha irmã, deixar de fazer coisas para ela e fazer por nós duas. Deixou sua vida profissional de lado para se dedicar inteiramente a família. Suas visitas a salões de beleza se tornaram menos frequentes e suas compras eram todas baseadas em suas duas meninas, e isso, sem esperar nada em troca. Todos os sonhos que ela tinha, depositou nas filhas, e faz isso até hoje. 

Em contrapartida, sua preocupação e superproteção causaram muitos conflitos em nossos relacionamentos, porque filhos sempre sabem das coisas e os pais "amam o passado e não vêem que o novo sempre vem."
Minha mãe me criou assistindo contos de fadas, acreditando que o bem sempre vence o mal e que o príncipe sempre aparece, mais cedo ou mais tarde em seu cavalo branco para te socorrer da torre...
Obviamente percebi de maneiras bem difíceis que não é bem assim que as coisas funcionam, e que geralmente, encontramos feras, sapos e Shereks em seu lugar. Mesmo assim, meu sonho sempre foi encontrar o amor da minha vida, casar em uma igreja linda de branco, véu e grinalda, com uma festa linda, lua de mel romântica na Europa, morar em uma casa grande, com cachorros e um marido que me amasse muito. Sonhava em ter filhos que me admirassem como mãe e passar o final da vida, velhinha, sentada na varanda ao lado de meu marido, em cumplicidade, vendo nossos netos brincando no jardim. Bem, a vida me levou para caminhos totalmente opostos a esses, e o sonho de ser mãe, foi o primeiro a ser deixado de lado.

Na ânsia de começar a viver, segui logo os exemplos de minha mãe. Me anulei, cuidei, me preocupei e superprotegi meus relacionamentos, não tive maturidade suficiente para entender que isso se faz por filhos e não com parceiros, aparentemente, não dá muito certo. Sempre quis ser igual a minha mãe, mas escolhi os momentos e as pessoas erradas para colocar em prática o jeito de ser, como também muitas mulheres assim o fazem. Me revoltei, e jurei que nunca mais seria como ela, pois é extremamente sufocante esse excesso de cuidado. Até que um dia parei para pensar em sua importância em minha vida. Como toda menina, me espelhei em minha mãe para ser uma mulher de sucesso, admirada, que sabe cuidar e amar, dar os melhores conselhos e os abraços mais confortantes. Minha vida não saiu exatamente do jeito que esperava,  e descobri novas estradas e caminhos para que pudesse sair de meu mundinho egoísta e fazer algo por outras pessoas, dar amor para quem precisa sem esperar nada em troca, para pessoas que nem conheço. Me surpreendo quando descobri que sou mais parecida com ela do que imaginava. Vejo que cresci e sou uma mulher forte, batalhadora, corajosa e segura de mim, com bondade e vontade de ajudar o próximo e me realizar com isso, exatamente como queria ser.

Nossos sonhos muitas vezes não se realizam como esperamos, mas cabe a cada um de nós sofrer por algo que nunca aconteceu ou levantar e seguir em frente por onde der. Tenho certeza apenas de que tudo o que sou, devo à minha mãe, Dona Carmen, uma mulher que sabe ser mãe, e  cumpre sua missão da melhor forma possível. Não sei se um dia também serei mãe, mas certamente se Deus me der essa oportunidade, quero ser uma mãe igual a minha mãe, perfeita com todas as suas imperfeições. 


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