Certa vez, quando tinha 4 anos de idade,
peguei algumas moedas que estavam na mesa da sala de minha madrinha. Davam um
total de mais ou menos R$2,00. Quando já estávamos quase chegando em casa,
mostrei meu "feito" à minha mãe, a qual ficou muito aborrecida e fez
meu pai voltar na hora para devolver e pedir desculpas. Foi humilhante, lembro
da cena como se fosse ontem. Madrinha não se importou, afinal, eram apenas
algumas moedinhas, não fariam diferença alguma. Mas para minha mãe, era muito
mais que isso. Aprendi naquele dia que não importa o que seja, não importa o
valor, se não é seu, não te pertence.
Posso contar nos dedos quantas vezes
apanhei, e não se dava somente ao fato de ser quietinha, mas sim pelo respeito
que tinha por meus pais e aquelas olhadas que me davam quando estava prestes a
fazer algo errado. Ai de mim se falasse um palavrão ou fizesse birra. Meus pais
sabiam exatamente como me dar limites. Minha mãe sempre foi muito presente em
minha vida escolar. Fazia questão de conhecer os professores e saber exatamente
o que se passava em cada dia de aula. Meus professores eram meus mestres,
pessoas as quais devia todo respeito e admiração.
Minha criação foi totalmente baseada em
respeito aos mais velhos, superiores e qualquer pessoa que cruzasse meu caminho,
independente de cor, credo ou status social. Cresci amando os animaizinhos,
pois são criaturas amadas de Deus e totalmente dependentes de nós, humanos.
Sempre respeitei a natureza, nunca joguei lixo no chão e tinha pena de arrancar
uma florzinha do jardim, pois ela morreria. Sabia que palavras como "Bom
dia! Boa tarde! Boa noite! Como vai? Precisa de alguma coisa? e Pode contar
comigo!" eram capazes de mudar o dia e até a vida de uma pessoa. Minha
religião me ensina que o amor e a comunhão com o próximo são primordiais para o
desenvolvimento e que a máxima "não faça aos outros o que não gostaria que
fizessem contigo" é uma lição de vida que deveria ser aplicada
diariamente.
Me assusto quando penso que faz tão pouco
tempo que tudo isso aconteceu e comparo com os dias de hoje. Me dói ver tantas
crianças com total controle sobre seus pais e professores, chantagistas,
independentes, cheias de razão e por vezes até tiranas. São poucas as que ainda
temem o olhar de um pai e sabem que não é não. Ser professor está se tornando
cada dia mais difícil, com direito à remuneração extra por insalubridade.
Muitos pais não entendem o real significado de ter filhos. Não passam tempo
algum com eles, não os acompanham, não sabem nem como é sua personalidade, do
que gosta ou qual sua cor preferida. Temos vivido um grande analfabetismo
espiritual. As crianças são mandadas para a escola cada vez mais cedo, para
serem criadas e não cuidadas. Não carregam mais consigo um "currículo de
valores", mas sim uma carência gigantesca de pai e mãe. Muitos pais não se
dão conta disso, mas o acompanhamento, a interação, o interesse são de suma
importância. São modelos a serem seguidos, portanto, o modo como você age pode
definir como será o caráter de seu filho no futuro. Muitos problemas emocionais
da vida adulta tem início da infância. Coisas boas ou ruins que fazemos são
oriundos de uma infância de sucesso ou não, de valores que a nós foram
apresentados ou não.
Precisamos de pais mais presentes, que
ensinem a seus filhos como crescer, viver, tratar e respeitar o outro, que
mesmo com tanta falta de tempo, o arranjem ainda assim para dar amor e mostrar
que se importam, que os ensinem a ter humanidade. É obrigação dos pais
ensinarem valores como ética, respeito e disciplina. É obrigação da escola ser
uma extensão de conhecimentos específicos. Estamos invertendo os valores e
obrigações, fazendo nossas crianças procurarem amor em qualquer esquina ou
qualquer droga da vida, já que lhe faltam no lugar que deveriam encontrar, em
casa.
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