Coluna da Andry Simão - Precisamos falar sobre valores




Certa vez, quando tinha 4 anos de idade, peguei algumas moedas que estavam na mesa da sala de minha madrinha. Davam um total de mais ou menos R$2,00. Quando já estávamos quase chegando em casa, mostrei meu "feito" à minha mãe, a qual ficou muito aborrecida e fez meu pai voltar na hora para devolver e pedir desculpas. Foi humilhante, lembro da cena como se fosse ontem. Madrinha não se importou, afinal, eram apenas algumas moedinhas, não fariam diferença alguma. Mas para minha mãe, era muito mais que isso. Aprendi naquele dia que não importa o que seja, não importa o valor, se não é seu, não te pertence.
Posso contar nos dedos quantas vezes apanhei, e não se dava somente ao fato de ser quietinha, mas sim pelo respeito que tinha por meus pais e aquelas olhadas que me davam quando estava prestes a fazer algo errado. Ai de mim se falasse um palavrão ou fizesse birra. Meus pais sabiam exatamente como me dar limites. Minha mãe sempre foi muito presente em minha vida escolar. Fazia questão de conhecer os professores e saber exatamente o que se passava em cada dia de aula. Meus professores eram meus mestres, pessoas as quais devia todo respeito e admiração.

Minha criação foi totalmente baseada em respeito aos mais velhos, superiores e qualquer pessoa que cruzasse meu caminho, independente de cor, credo ou status social. Cresci amando os animaizinhos, pois são criaturas amadas de Deus e totalmente dependentes de nós, humanos. Sempre respeitei a natureza, nunca joguei lixo no chão e tinha pena de arrancar uma florzinha do jardim, pois ela morreria. Sabia que palavras como "Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Como vai? Precisa de alguma coisa? e Pode contar comigo!" eram capazes de mudar o dia e até a vida de uma pessoa. Minha religião me ensina que o amor e a comunhão com o próximo são primordiais para o desenvolvimento e que a máxima "não faça aos outros o que não gostaria que fizessem contigo" é uma lição de vida que deveria ser aplicada diariamente. 

Me assusto quando penso que faz tão pouco tempo que tudo isso aconteceu e comparo com os dias de hoje. Me dói ver tantas crianças com total controle sobre seus pais e professores, chantagistas, independentes, cheias de razão e por vezes até tiranas. São poucas as que ainda temem o olhar de um pai e sabem que não é não. Ser professor está se tornando cada dia mais difícil, com direito à remuneração extra por insalubridade. Muitos pais não entendem o real significado de ter filhos. Não passam tempo algum com eles, não os acompanham, não sabem nem como é sua personalidade, do que gosta ou qual sua cor preferida. Temos vivido um grande analfabetismo espiritual. As crianças são mandadas para a escola cada vez mais cedo, para serem criadas e não cuidadas. Não carregam mais consigo um "currículo de valores", mas sim uma carência gigantesca de pai e mãe. Muitos pais não se dão conta disso, mas o acompanhamento, a interação, o interesse são de suma importância. São modelos a serem seguidos, portanto, o modo como você age pode definir como será o caráter de seu filho no futuro. Muitos problemas emocionais da vida adulta tem início da infância. Coisas boas ou ruins que fazemos são oriundos de uma infância de sucesso ou não, de valores que a nós foram apresentados ou não.

Precisamos de pais mais presentes, que ensinem a seus filhos como crescer, viver, tratar e respeitar o outro, que mesmo com tanta falta de tempo, o arranjem ainda assim para dar amor e mostrar que se importam, que os ensinem a ter humanidade. É obrigação dos pais ensinarem valores como ética, respeito e disciplina. É obrigação da escola ser uma extensão de conhecimentos específicos. Estamos invertendo os valores e obrigações, fazendo nossas crianças procurarem amor em qualquer esquina ou qualquer droga da vida, já que lhe faltam no lugar que deveriam encontrar, em casa. 


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