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Poderia o Google ter o "algoritmo" feliz? |
Em meio aos milhares de funcionários
que fazem o Google, está um engenheiro com uma função pouco usual:
fazer as pessoas mais felizes e o mundo um lugar mais pacífico.
Há
alguns anos, Chade-Meng Tan, um dos mais antigos funcionários da
empresa, notou que muitos dos seus colegas estavam estressados e
infelizes no trabalho. Ele então persuadiu seus superiores a deixá-lo
criar um curso que ensinaria aos funcionários técnicas de meditação e de
atenção plena como forma de aumentar a inteligência emocional e
promover o bem-estar.Tan foi devidamente movido para o departamento de Recursos Humanos para gerenciar o programa, batizado de Busque Dentro de Si Mesmo – em uma óbvia alusão à ferramenta de busca do Google. Na edição de 2014 do conhecido festival cultural SXSW, em Austin, no estado americano do Texas, Tan liderou um painel chamado “Transforme-se na pessoa mais feliz da Terra”. Nenhuma surpresa que o tema fosse suficiente para atrair a curiosidade do auditório do hotel em que a palestra estava sendo realizada.
Tan prometeu que ensinaria à plateia segredos para trazer felicidade, todos amparados pela ciência. E em três simples passos.
Eu era uma das pessoas presentes na palestra e fiquei fascinado, apesar do meu ceticismo. Nas semanas seguintes, decidi experimentar o método, mas também pesquisei a ciência que Tan diz estar por trás de suas técnicas. Os passos são:
Acalme sua mente
Em Austin, Tan pediu que a plateia praticasse um exercício respiratório coletivo para acalmar o que chamou de “flocos de neve em um globo de vidro” que tínhamos em nossos crânios. Ele defendeu a necessidade de encontrarmos formas de durante o dia tomarmos algumas pausas para cuidar da respiração.Em seu livro, o engenheiro do Gooble cita um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Massachussetts em que a prática de meditação é vista com um fator de diminuição da ansiedade. Mas funciona? Há alguma evidência de que a atenção plena pode ajudar a afastar pensamentos negativos. Uma análise de mais de 200 estudos deste tipo descobriu que a prática pode ajudar a tratar depressão, ansiedade e estresse. (Alguns pesquisadores até afirmam que a meditação e seu efeito antiestresse pode reduzir os efeitos do envelhecimento).
É preciso notar que lidar com depressão e ansiedade não é necessariamente a mesma coisa que “turbinar” a felicidade. Ainda assim, o primeiro conselho de Tan parece ter respaldo científico crescente.
Registre momentos de felicidade
Este passo significa dizer para si mesmo “estou tendo um momento de alegria” em situações como uma boa xícara de café, uma piada engraçada ou uma camisa nova. Quando situações negativas ocorrem conosco durante o dia, tendemos a retê-las, ao passo que situações positivas têm efeito mais efêmero. Se conscientemente registrarmos a presença de bons momentos, aumentamos nossas chances de avaliar como positivo o dia como um todo.A hipótese de que notar experiências positivas equilibra negativas faz sentido. Todos nós podemos nos lembrar do poder de um simples acontecimento para estragar um dia, mas raramente o oposto parece ser verdadeiro.
Estudos recentes tentaram explorar este efeito, incluindo um realizado pela psicóloga Barbara Fredrickson, cuja conclusão foi a de que precisamos de uma proporção de 3 para 1 entre pensamentos positivos e negativos para livrarmos nossas mentes de pensamentos negativos. O estudo porém, gerou controvérsia, com alguns cientistas questionando os argumentos matemáticos.
Em 2006, porém, outro estudo revelou que pessoas relatando experiências positivas em um diário declararam sentimentos mais intensos de satisfação com a vida, e que o efeito durou pelo menos duas semanas.
Deseje a felicidade para as outras pessoas
De acordo com Tan, pensamentos altruísticos nos beneficiam, porque nós humanos derivamos mais alegria do ato de dar do que o de receber. O engenheiro do Google faz argumentos eloquentes em favor de mais compaixão em nossas vidas, mas cita apenas um estudo para endossar sua afirmação de que “bondade é uma fonte sustentável de felicidade”.Em seu livro “Felicidade: Uma Breve Introdução”, o filósofo Daniel Haybron endossa o argumento de Tan ao citar outros pesquisadores, em especial o psicólogo Michael Argyle, para quem apenas dançar gera sensação de alegria maior que a caridade ou o trabalho voluntário. Fredrickson também estudou os benefícios de uma forma de meditação envolvendo pensamentos positivos sobre outras pessoas. Ela pediu que as pessoas experimentasse a técnica alguns minutos por dia por diversas semanas e muitas relataram sentimentos de alegria e esperança.
Mas ainda estamos longe da lógica defendida por Tan, de que desejar o bem para os outros é suficiente. Estaríamos nos iludindo se pensássemos que desejar que alguém seja feliz é a mesma coisa que fazer alguma coisa para deixá-lo feliz, como dar um presente ou levá-los para sair.
Ciência x experiência
Na verdade, o quanto mais eu pesquisei os argumentos de Tan, o menos convencido eu fiquei de que são sustentados pela pesquisa científica. Muitos dos resultados dos estudos citados são apenas sugestivos e precisam ser replicados. De acordo com Haybron, há outros fatores ligados à felicidade que são mais sustentados por estudos – autonomia, trabalho prazeiroso, amor e dinheiro, por exemplo.Porém, quanto mais eu pratiquei os três passos do método de Tan, mais ele pareceu estar funcionando. Comecei a meditar no trabalho e programei meu telefone para me enviar lembretes de hora em hora para desejar felicidade aos outros. E me lembrei de dizer a mim mesmo que estava tendo um momento de alegria em situações cotidianas - como brincar com minhas filhas no parque ou tomar uma cerveja gelada.
Precisava reconciliar esta lacuna entre minha felicidade ampliada e a aparente falta de evidência completa para sustentá-la. Estava Tan realmente tocando em um ponto real ou seria ele apenas mais um “comerciante de sol barato”, um apelido pejorativo dado por Haybron a especialistas em felicidade.
Perguntei ao psicólogo Tom Stafford sobre a lacuna. “Comparar o que funciona para você e o que a ciência diz é difícil porque a felicidade é um tema complexo. Haverá variações locais por causa da personalidade individual, então imediatamente já temos uma razão para esperar disparidades entre a ciência, que tende a funcionar melhor com médias de grupos, e a experiência individual”, afirma Stafford.
“A questão geral que me interessa é: quando devemos confiar em nossa experiência e quando devemos ouvir a ciência. Não precisamos da ciência para saber que vai doer quando largarmos uma pedra no dedão do pé, mas precisamos dela para saber se alguma coisa faz mal, como o cigarro. A felicidade está entre os dois casos”.
Para Stafford, é possível que os “três passos” de Tan tenham funcionado para mim por causa da minha personalidade. É possível que estudos futuros lançarão mais luz sobre esses pontos. O campo da psicologia positiva tem apenas algumas décadas de idade, mas há um número crescente de pesquisas sobre felicidade e Hayborn vê o tópico tão válido quanto o corpo de trabalho observando o inverso: a tristeza.
“Medir a felicidade não é tão mais misterioso ou difícil que medir depressão e ansiedade. E não deveria ser mais controverso”.
Para muitas pessoas, os “três passos” de Tan podem parece óbvios ou simplórios, mas ele os compara ao efeito de fazer flexões apenas um dia na academia. Você sabe que faz bem, mas precisa exercitar todos os dias para obter resultados. Por mais que eu esteja mais convencido pela experiência do que pela ciência, eu continuarei a frequentar a “academia” do Google.
David G Allan
BBC Capital
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