Ao longo de apenas um ano, sete em cada dez trabalhadores brasileiros de até 24 anos de idade saem de seus empregos, conforme estudo publicado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). E, segundo os pesquisadores do Instituto, a mudança constante de trabalho dificulta a especialização e um salário melhor.
"A entrada e a saída frequente do emprego tende a diminuir a aquisição de experiência geral e específica. E, uma vez que o acúmulo desse tipo de capital humano é importante, a elevada rotatividade é um fator que pode dificultar o aumento da produtividade e o incremento do salário no futuro", afirma o estudo.
Considerando todas as faixas etárias, o tempo médio de permanência em um emprego no país é de cinco anos, de acordo com dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), de 2009. O Brasil foi o penúltimo em uma lista de 22 países comparados pelo Dieese, acima apenas dos Estados Unidos, cuja média é de 4,4 anos. O trabalhador que permanece mais tempo em um emprego é o italiano: em média, 11,7 anos.
A administradora de empresas Sylvia Ignácio da Costa, coordenadora do curso de Gestão de Recursos Humanos da Universidade Anhembi Morumbi, também acredita que um ano é pouco tempo para um funcionário adquirir aprendizado que o habilite a alçar voos mais altos. Mas se um ano é um período curto, uma década no mesmo emprego não seria tempo demais? Isso depende de uma série de fatores.
Vantagens
Estabilidade: "No período entre dois e cinco anos, um funcionário consegue assimilar a cultura organizacional de uma empresa", afirma o administrador José Roberto Marques, superintendente do Instituto Brasileiro de Coaching. E, estando bem adaptado, ele poderá atuar em sintonia com os procedimentos e os valores aprendidos. Numa situação como essa, um convite para mudar deve ser avaliado com cuidado. "É preciso procurar informações sobre a cultura da nova companhia. Muitos não fazem isso, acabam não se adaptando e se arrependem depois", afirma Laís Passarelli, headhunter e sócia-diretora da Passarelli Consultores.
Aprimoramento: mais tempo em um mesmo trabalho pode resultar em maior aprendizado e especialização. "O funcionário terá a oportunidade de desenvolver uma visão sistêmica, ou seja, a capacidade de enxergar a empresa como um todo, compreendendo como cada coisa funciona e se interliga", diz Marques. Com um conhecimento melhor do negócio, o veterano provavelmente apresentará melhores performances e resultados. Além disso, ele poderá se tornar uma pessoa de referência para os novos contratados.
Perspectiva de crescimento: adaptado à cultura empresarial e especializado na função, um funcionário com longo tempo de casa pode ser reconhecido como a pessoa ideal para liderar um departamento ou coordenar um novo projeto, com significativos ganhos para o currículo. "Enquanto houver desafios e possibilidades de crescimento, não vale a pena mudar", afirma a headhunter Laís.
Oferta de benefícios: algumas companhias oferecem benefícios a funcionários com mais tempo de casa. Plano de saúde, seguro de vida e previdência privada são muitas vezes concedidos com o propósito de reter profissionais. Cursos e treinamentos, também. "Afinal, o diferencial competitivo de uma organização é o capital humano", afirma a professora Sylvia.
Boa reputação no mercado: "Quem troca muito de emprego pode ser visto como imaturo, instável ou como alguém que tem dificuldade para lidar com conflitos", diz Sylvia. A professora também afirma que as empresas têm interesse em reter e investir em talentos. "Só que nenhuma delas quer ver o seu investimento ir embora diante da primeira crise ou da primeira oportunidade que se apresentar ao funcionário", afirma.
ATRASAR-SE COM FREQUÊNCIA: Luís Testa, diretor de marketing do site de empregos Catho, sabe que, hoje em dia, há lugares flexíveis em relação ao horário. Mas para aqueles em que o controle é rígido, atrasos sem justificativas serão vistos de maneira negativa. "É importante que o profissional procure conhecer as regras da empresa em relação ao relógio", diz ele. Quem não tem horário fixo para trabalhar, porém, precisa ficar atento aos horários de reuniões e outros compromissos agendados. Eles precisam ser respeitados.
Desvantagens
Estagnação: um dos maiores riscos de quem fica muito tempo no mesmo emprego é cair na perigosa zona de conforto, monótona e improdutiva. "O domínio do trabalho cotidiano pode criar uma falsa ideia de equilíbrio, o que torna o funcionário resistente a mudanças", afirma o superintendente do IBC, José Marques. Para a headhunter Laís Passarelli, se você já está há sete anos ou mais no mesmo lugar, pode ser o momento de pensar em sair. "Uma pessoa que faz a mesma coisa há muito tempo pode não ser bem vista no mercado", diz ela. Por outro lado, é possível vivenciar diferentes experiências na mesma companhia, em funções ou projetos diversos. O que conta, portanto, é o aprendizado, o crescimento profissional. Para saber se está progredindo, basta se fazer a pergunta: "O que aprendi de novo nos últimos meses?"
Falta de motivação: "Quem entra no piloto automático fica facilmente desmotivado", afirma Marques. É nesse ponto que a rotina, que antes parecia confortável, começa a ser entediante. Quem segue nesse ritmo, ao longo de muito tempo, geralmente, passa a apresentar performance e resultados cada vez piores e as funções corriqueiras podem ser afetadas. "O funcionário acomodado pode parar de se preocupar com o cumprimento do seu horário de entrada e saída, por exemplo. O que evidentemente vai prejudicá-lo", diz o especialista.
Currículo fraco: "O mercado não quer pessoas acomodadas", afirma Marques. Assim, se a troca constante de empresas sugere instabilidade, o extremo oposto –ter no currículo um único endereço profissional– também é ruim. A menos que, na mesma firma, o funcionário tenha passado por diferentes cargos, funções ou projetos.
Dificuldade de adaptação: diante de uma demissão ou de uma nova oportunidade para a carreira, o funcionário de uma empresa pode enfrentar dificuldades de adaptação. Mas buscar constante atualização, realizar cursos e treinamentos constantemente são formas de evitar ou de amenizar esse choque.
Perda de oportunidades: um estudo realizado pela Fesa, empresa de consultoria e gestão de pessoas, em 2012, revelou que, ao mudar de emprego, os gerentes e diretores de empresas obtinham um aumento de remuneração de 28%, em média. Na ocasião da pesquisa, o setor de tecnologia era o que apresentava o melhor incremento salarial, podendo chegar a 44% para os executivos.
O levantamento alerta para a importância de estar sempre atento ao mercado. Se há escassez de profissionais qualificados em sua área, por exemplo, pode ser o momento exato de começar a distribuir currículos. É preciso considerar que o seu potencial de crescimento –que inclui não apenas um incremento salarial, mas a oferta de cursos, benefícios ou novos desafios– pode estar em outro endereço.
Um bom ambiente de trabalho é um lugar onde as pessoas podem conviver harmoniosamente e que há respeito entre os colegas dentro das normas de etiqueta e comportamento organizacional. Mas nem sempre estes procedimentos são claros e os profissionais podem vivenciar situações constrangedoras. É quase impossível não passar por saias justas alguma vez na vida. "Devemos lembrar que os colegas de trabalho e gestores são a garantia de tornar pública a nossa imagem. É importante pensar que um bom ambiente depende de cada um", afirma Lígia Egger, consultora de imagem e etiqueta corporativa. Saiba o que os especialistas recomendam diante de situações embaraçosas.
Por Patrícia Ribeiro,
do UOL, em São Paulo
Por Patrícia Ribeiro,
do UOL, em São Paulo
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