No momento em que se levantam, novamente, as vozes do neoliberalismo tupiniquim, exigindo uma rápida abertura comercial do Brasil para o exterior, e o PMDB inclui, em seu documento Uma Ponte para o Futuro, a necessidade do Brasil estabelecer acordos comerciais com a Europa e os EUA, lembrando a iminência e a imposição “histórica” do Acordo Transpacífico, e em que mídia tradicional segue com sua insistência em defender como modelo a ridícula Aliança do Pacífico, a União Européia - depois de enrolar, durante anos, nas negociações com o MERCOSUL - parece que vai simplesmente “congelar” as negociações entre os dois blocos nesta sexta-feira.
A razão é clara.
Por mais que se esforcem os
vira-latas tupiniquins, fazendo tudo que os gringos querem, oferecendo
quase 90% de liberação de produtos, os protecionistas europeus
simplesmente se recusam a concorrer com o Mercosul na área agrícola -
justamente onde somos mais competitivos.
E, além disso, como se não
bastasse, a UE como um todo, para dificultar, hipocritamente, ainda mais
o fechamento de um acordo, exige o equivalente a uma rendição total da
nossa parte:
A liberação de quase 100% dos
produtos e livre acesso, para suas empresas, como se nacionais fossem, a
setores como serviços de engenharia e advocacia e ao gigantesco mercado
de compras governamentais brasileiro, de dezenas de bilhões de dólares.
O recado é óbvio:
Não adianta ficar ganindo e
mendigando com olhar pidão, para ter atenção ou uma migalha, porque não
vamos ceder um centímetro, e, mesmo que vocês façam tudo, tudo o que
queremos, poderão não ganhar nada em troca, está claro?
Como lembramos outro dia, grandes potências impõem acordos comerciais, e os pequenos países os assinam.
Nações que não tem uma indústria
tão desenvolvida como a nossa, como a Argentina, ou outras, que, com
salários miseráveis, se transformaram em mera linha de maquila, tendo
prejuízos no comércio exterior, apesar de trabalharem como burros de
carga montando produtos destinados a terceiros mercados, como o México
(vide O México e a América do Sul), não tem outra saída a não ser se
associar a outros países (esse é o projeto do Brasil para a América do
Sul, por meio do Mercosul e da UNASUL) ou assinar acordos comerciais
desvantajosos, para se integrar, subalternamente, à economia mundial.
Países maiores, com grandes
mercados consumidores reais ou potenciais, como a China, preferem fechar
suas economias durante anos, dedicando-se a desenvolver seu mercado
interno, a indústria e a tecnologia, abrindo seletivamente seu
território a empresas estrangeiras e cobrando um alto preço para quem
quisesse ter acesso a ele, para depois se impor, comercialmente, ao
mundo.
A pergunta é a seguinte:
Vamos nos atrelar, como um mero
vagão de commodities, ao trem puxado pela Europa e os Estados Unidos,
onde sempre seremos tratados, apesar de nossos eventuais progressos,
como um povo de segunda classe, ou, em nossa condição de oitava economia
do planeta, vamos tentar estabelecer um projeto próprio e soberano, de
longo prazo, como fazem outras potências intermediárias do nosso tipo,
como a China, a Rússia e a Índia, que, aliás, não têm - nenhuma delas -
acordos de livre comércio com a Europa ou os EUA?
Tentar emular, abjetamente os outros, e lamber o sapato alheio é fácil.
Difícil é trabalhar para erguer –
assumindo a missão e o sacrifício – no quinto maior território do mundo -
uma nação justa, forte, e independente, e legá-la, como fizeram em
outros países que muitos no Brasil admiram e “copiam”, como um
estandarte de honra e de prosperidade, para os nossos filhos.Mauro Santayanna
Brasil 247
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