O vergonhoso silêncio dos indignados


Os tucanos, a começar pelo tucano-mor Fernando Henrique, e os demos (simplificação de democratas) estão arrancando as penas e as folhas dominados pelo desespero diante do esvaziamento do projeto de derrubada da presidenta Dilma Rousseff. O ex-presidente FHC, em artigo no último final de semana, revelou-se tão desesperado, diante da reforma ministerial que tornou mais remoto o impeachment, que chegou a lamentar que Dilma ainda tenha "três anos e pouco" de mandato, ao mesmo tempo em que pede urgência para o golpe, afirmando que "chegará a hora de acelerar decisões".
Enquanto isso, as principais revistas semanais, que parecem já conformadas com a dificuldade em tirar Dilma do Palácio do Planalto, preferiram investir na inviabilização da candidatura do ex-presidente Lula às eleições presidenciais de 2018. E se fizeram de cegas, surdas e mudas à denúncia de que o deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, possui quatro contas secretas em bancos suíços, embora o governo daquele país tenha esfregado as provas na cara delas. Surpreendentemente, a "Veja", que descobriu uma conta inexistente do senador Romário na Suíça, não viu as contas existentes de Cunha.

Ao mesmo tempo em que se esforçam para torcer os fatos relacionados com as viagens do ex-presidente Lula, empenhando-se em descobrir algo que possa incriminá-lo de algum modo, as revistas, a exemplo dos oposicionistas, ignoram as propinas e as contas suíças de Cunha. A explicação é simples: elas, as revistas, que junto com os jornalões e a oposição estão engajadas numa campanha sistemática contra o governo da presidenta Dilma Rousseff, objetivando defenestrá-la do Planalto, buscam preservar o presidente da Câmara dos Deputados porque ele é peça fundamental no processo de impeachment da Presidenta.
Cinicamente, os oposicionistas que se revelam demagogicamente indignados com a corrupção atribuída ao governo silenciam, escandalosamente, diante das acusações ao deputado Eduardo Cunha, feitas, inclusive, pelo Procurador Geral da República. Por muito menos alguns parlamentares foram cassados, como o senador Demóstenes Torres e os deputados André Vargas e Severino Cavalcante, entre outros, mas agora não se vislumbra na Câmara nenhuma iniciativa sequer para tirar Cunha da presidência da Casa. A hipocrisia e o cinismo dos que o seguem não lhes permitem semelhante medida, o que os torna coniventes por omissão. Por conta disso ele se sente fortalecido para continuar se comportando como se inocente fosse.
Hipocrisia e cinismo, aliás, é o que não falta a muitos políticos que, comportando-se como vestais, acreditam que o povo tem memória curta. Na verdade, o cinismo e a hipocrisia predomina também entre os que bateram panelas e foram para as ruas protestar contra a corrupção e pedir a derrubada do governo, além daqueles que se declararam, através de enorme faixa, que "são todos Cunha". Se são todos Cunha obviamente são todos também propineiros e, portando, certamente por isso não manifestaram sua indignação pelas contas suíças e nem pediram a saída dele da presidência da Câmara.
Como consequência desse vergonhoso e triste panorama é que, a cada dia, cai o número de brasileiros que acreditam na mídia e nos políticos. E isso é prejudicial para a democracia, pois a cada pleito aumenta a abstenção, facilitando a eleição de maus políticos para um Congresso cada vez mais desmoralizado, onde os interesses pessoais e partidários continuam acima dos interesses maiores da nação. Todos os que estão empenhados em desestabilizar o governo, criando toda sorte de dificuldades para a governabilidade, na verdade são os verdadeiros responsáveis pela crise porque passa o país.
Diante desse quadro, resta saber até quando a mídia vai continuar nessa tarefa impatriótica de envenenar o país e o povo vai continuar elegendo esses maus brasileiros interessados apenas no poder. O Brasil, evidentemente, é muito maior do que essa malta, mas lamentavelmente precisará de muito tempo para reparar os danos que estão lhe causando.

Ribamar Fonseca
Brasil 247

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