Segundo as informações mais
recorrentes, teriam sido cerca de 800 mil os manifestantes de ontem
(16/08) contra o governo Dilma, em todo o país. Algumas fontes falam em
aproximadamente 500 mil, outras sugerem mais de um milhão. Especula-se
se o número de manifestantes teria sido maior ou menor do que nas outras
duas manifestações deste ano - parece que a de ontem teria ficado em
uma posição intermediária. Questiona-se também se a quantidade de
manifestantes nos eventos contra o governo Dilma seria maior ou menor do
que aqueles que saíram em passeatas para apoiar o governo.
Todos esses números e especulações são absolutamente irrelevantes. Explico.
Todos esses números e especulações são absolutamente irrelevantes. Explico.
É óbvio que a quantidade de
brasileiros que gostaria de ter participado das manifestações de ontem é
muito maior do que a daqueles que efetivamente saíram às ruas.
Certamente, haveria mais do que dez ou vinte milhões de pessoas que
engrossariam a multidão, e não foram por motivos os mais diversos: moram
em regiões distantes nas quais não houve passeatas, não puderam ir por
motivos pessoais, por preguiça, por medo, etc.
Da mesma forma, o número de
cidadãos que gostaria de participar de manifestações pró-Dilma é muito
maior do que os números, por exemplo, de 1º de maio, e os motivos da
não-participação são idênticos. Não tenho dúvidas de que dezenas de
milhões igualmente estariam nas ruas apoiando o governo.
Eis porque considero irrelevante
analisar quantas pessoas efetivamente foram à manifestação A ou B,
contra ou a favor. Esses números não representam, nem de longe, o
universo daqueles que fazem oposição ou apoiam o governo federal.
O que se deve analisar é outra coisa.
Que os manifestantes tenham todo o
direito de organizar passeatas contra o governo Dilma, me parece ser
ponto pacífico. Faz parte da Democracia a possibilidade de os cidadãos
demonstrarem seu descontentamento (ou apoio) por várias formas,
inclusive por meio de manifestações nas ruas. Só mesmo quem nutre algum
viés autoritário poderia discordar disso. Até mesmo integrantes do
governo Dilma já deixaram bem claro (inclusive ontem à noite) que
consideram perfeitamente democráticas as manifestações - e não poderia
ser diferente.
Da mesma forma, é não só natural
como também salutar que cidadãos se manifestem contra a corrupção,
embora fosse interessante que as pessoas se informassem um pouco melhor a
respeito e direcionassem sua indignação de forma racional e não
emocional.
O que não é razoável, porém, é
utilizar a indignação (ou suposta indignação) contra a corrupção como
pretexto para pregar a derrubada de um governo legitimamente eleito, em
função de discordâncias ou descontentamentos quanto à atuação do
governante. Se o cidadão não gosta da condução do governo federal (e,
reitero, tem todo o direito de não gostar), que mantenha acesa essa
chama, que organize seus amigos, famílias e conhecidos para, nas
próximas eleições, lutar pela vitória de alguma proposta de oposição.
Não há, porém, no ordenamento jurídico brasileiro, a opção de se
defenestrar um governo (seja ele qual for) por não se gostar dele. Esse
cacoete autoritário, felizmente, não foi inserido em nossa Constituição.
Cabe ressaltar que é igualmente ilegítimo tentar forçar alguma mancha
de "corrupção" em quem não a carrega - e é esse o caso de Dilma (e as
tentativas nesse sentido têm se mostrado, no mínimo, patéticas).
Os números efetivamente
relevantes, em contraposição aos dos presentes em passeatas, são os
números finais das eleições. Em outubro de 2014, os números disseram que
a Presidência da República seria ocupada, pelos quatro anos
subsequentes, por Dilma Roussef. Que os manifestantes não se esqueçam
disso, e que abandonem essa postura infantil do tipo "não fui escolhido
pro jogo, vou levar a bola embora".
Que respeitem a vontade da maioria e, democraticamente, tentem vencer em 2018.
Reinaldo Del Dotore
Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário