Nova denúncia de abuso da Polícia Federal na Lava Jato desafia ministro da justiça
No início de julho, numa das sessões da CPI da Petrobras, o delegado Dalmey Fernando Werlang denunciou que os responsáveis pela Operação Lava Jato haviam utilizado provas ilícitas – notadamente, a partir de um grampo clandestino instalado na cela do doleiro Alberto Youssef .
Agora, uma nova denúncia, publicada discretamente na edição da Folha de S. Paulo deste domingo, aponta outro suposto abuso que teria sido cometido pelos investigadores. Segundo reportagem do jornalista Aguirre Talento, o delegado Mário Fanton, que foi a Curitiba realizar uma sindicância sobre o grampo supostamente ilegal, denunciou pressões recebidas de colegas, lotados no Paraná, para abafar o caso.
No relatório, Fanton citou explicitamente o delegado Igor Romário de Paula, que tem se colocado à frente da Lava Jato, a quem acusou de querer "manipular as provas".
"Sugiro que o MPF [Ministério Público Federal] reanalise as provas, inclusive a sindicância da escuta clandestina, se possível refazendo-a, e conduza diretamente a presente investigação ou com grande proximidade a um novo delegado a se indicar, pois não acreditamos mais nas provas antes constituídas", escreveu Fanton.
Esses novos fatos ampliam a pressão sobre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que vem sendo cobrado por advogados e aliados políticos a tentar conter eventuais abusos na Lava Jato.
Leia,abaixo a reportagem de Aguirre Talento:
Um delegado da Polícia Federal que foi a Curitiba apurar vazamentos da Operação Lava Jato relatou ter sofrido pressão dos colegas do Paraná no trabalho e recomendou que a sindicância sobre a escuta na cela do doleiro Alberto Youssef fosse refeita.
O relato está em um despacho interno do delegado Mário Fanton de maio deste ano, no qual ele afirma ter presenciado "uma participação direta do DPF [delegado de Polícia Federal] Igor [Romário de Paula]" e de outra delegada "para quererem ter ciência e manipular as provas".
O caso da escuta na cela de Youssef voltou aos holofotes depois que dois policiais federais disseram à CPI da Petrobras, no último dia 2, que o equipamento foi instalado sem autorização judicial e captou conversas do doleiro.
As declarações contrariaram sindicância interna da PF do ano passado, que apontou que a escuta era inativa.
Depois disso, a CPI aprovou a convocação dos delegados da Lava Jato, incluindo Igor, para esclarecimentos. O caso é objeto de nova investigação interna da PF, conduzida por Brasília.
DESCONFIANÇA
Fanton foi a Curitiba depois que a sindicância interna havia terminado. Esse não era o foco inicial de sua missão, mas ele também apurou fatos relacionados à escuta.
Seu objetivo na superintendência era apurar boatos de que ocorriam vazamentos das investigações para a confecção de um dossiê com o objetivo de anular a Lava Jato.
Sua atuação provocou insatisfação e desconfiança dos delegados da operação.
Nesse período, Fanton obteve novo depoimento do agente Dalmey Werlang, um dos que falou à CPI, no qual ele mudou a versão sobre a escuta e apontou ilegalidade.
O delegado Fanton escreveu: "Sugiro que o MPF [Ministério Público Federal] reanalise as provas, inclusive a sindicância da escuta clandestina, se possível refazendo-a, e conduza diretamente a presente investigação ou com grande proximidade a um novo delegado a se indicar, pois não acreditamos mais nas provas antes constituídas".
Em outro trecho, Fanton conta que foi informado pelo delegado Igor de que a PF de São Paulo não havia prorrogado sua permanência em Curitiba e, quando entrou em contato com SP, responderam-lhe que sequer houve pedido de renovação da missão.
A Folha pediu para ouvir o delegado Igor por meio da PF em Curitiba. O órgão respondeu que não iria comentar o caso. A PF em Brasília também não comentou.
com Brasil 247
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