Após carta de ex-preso político, Moro libera dieta especial para Odebrecht
O juiz Sergio Moro cedeu e liberou dieta especial para o empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do Brasil.
Sua defesa alega que, por ser hipoglicêmico, Marcelo necessita de alimentos especiais, em curto intervalo de tempo.
No fim de semana, o jornalista Alex Solnik, em carta aberta endereçada ao juiz, argumentou que mesmo no tempo em que foi preso político da ditadura teve direito a alimentação especial.
“Observo que a enfermidade do custodiado é tratada com alimentação adequada e quiçá medicamentos, ambos acessíveis a ele, por meio de seus advogados, na carceragem da Polícia Federal”, destacou Sérgio Moro, na decisão de ontem. “Tendo sido a autoridade já informada, e não havendo relato de empeços, nada a prover, no momento.”
Abaixo, reportagem sobre a carta aberta de Solnik a Moro:
Em carta aberta ao juiz Sergio Moro, o jornalista Alex Solnik, que foi preso político pela ditadura militar durante três meses, nos idos de 1973, contesta a decisão do magistrado, que não permitiu comida especial aos empreiteiros presos na Operação Lava Jato.
"Fiquei estarrecido – data vênia – com a informação de que os empreiteiros presos na carceragem da Policia Federal de Curitiba foram proibidos de receber comida de casa por decisão sua, até mesmo os que estão sob dieta médica", diz Solnik. O jornalista lembra que enquanto esteve em poder dos militares recebeu comida macrobiótica, todos os dias, que vinha se sua casa – entre os empreiteiros, Marcelo Odebrecht solicitou dieta especial, alegando sofrer de hipoglicemia.
Leia, abaixo, o texto de Alex Solnik:
Prezado juiz Sergio Moro,
Fiquei estarrecido – data vênia – com a informação de que os empreiteiros presos na carceragem da Polícia Federal de Curitiba foram proibidos de receber comida de casa por decisão sua, até mesmo os que estão sob dieta médica.
Afinal, pesam sobre eles graves acusações, mas eles não são monstros, deveriam ser tratados com dignidade. É uma proibição absurda, data vênia, que não se justifica num regime democrático e nem na ditadura militar vigorou.
Saiba o senhor que, enquanto estive preso no DOI-Codi da rua Tutóia, em São Paulo, entre os dias 4 de setembro e 15 de novembro de 1973, nos terríveis anos Médici, depois dos sete primeiros dias em que todos ficavam incomunicáveis e eu tive que engolir aquela lavagem que eles dão aos presos, recebi comida de casa em todos os 38 dias restantes.
Minha mãe convenceu os meganhas que eu seguia regime macrobiótico. E nem atestado médico eles pediram. A primeira refeição chegou numa panela de alumínio embrulhada no Jornal da Tarde do dia 12 de setembro de 1973, a fim de manter o calor. Eu o li escondido, no banheiro, onde o carcereiro não poderia me ver. Trazia a notícia do assassinato de Salvador Allende no Palácio de La Moneda, golpe que deu início à ditadura Pinochet no Chile.
Dias depois começaram a chegar à carceragem guerrilheiros brasileiros apanhados pela polícia política chilena, dentro do esquema de colaboração entre as polícias da América do Sul, conhecido por Operação Condor. Um deles, Pedro Rocha, assaltante de banco, passou alguns dias na cela X-5 que eu dividia com Oswaldo Rocha, dentista e militante da AP.
A mesma cela onde dois anos depois Vlado Herzog seria suicidado. Dividimos com ele a refeição da minha mãe. E permitimos que lesse o jornal no banheiro. Não há mais ditadura, nem DOI-Codi, nem suicidados. Libera o rango, Moro!
com Brasil 247
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