Ocidente se posiciona para futuro milagre cubano

Enquanto o 'vai pra Cuba' se transformou num mote pejorativo da direita brasileira, países ocidentais se aproximam da ilha para tentar estreitar laços econômicos com o governo de Raúl Castro; visita de François Hollande, a primeira em 55 anos de um chefe de estado francês, é considerada histórica pela imprensa francesa; ontem, Raúl Castro agradeceu ao papa Francisco seu apoio na reaproximação com os Estados Unidos, de Barack Obama; perspectiva de abertura econômica demonstra acerto da estratégia brasileira incentivada pelo ex-presidente Lula de fazer investimentos em Cuba, como no porto de Mariel

O Ocidente redescobriu Cuba. A visita do presidente da França, François Hollande, que chegou nesse domingo, 10, a Havana para uma visita oficial à ilha está sendo comemorada pela imprensa francesa com um dia histórico. Há 55 anos um chefe de estado francês não aparecia por lá. 
Hollande se reúne nesta segunda-feira, 11, com o presidente Raúl Castro. A viagem também tem caráter econômico. A França quer fomentar o comércio com Cuba, com quem teve no ano passado negócios no valor de US$ 200 milhões, número inferior ao de 2013 e longe dos fluxos que Cuba mantém com outros parceiros europeus como Espanha, Holanda e Itália.
O presidente encerrará um fórum no qual participarão diretores da extensa delegação empresarial que o acompanha, integrada por companhias como a de bebidas Pernod Ricard, a hoteleira Accor, a companhia aérea Air France, o grupo de distribuição Carrefour, o de telecomunicações Orange, e vários bancos.

A visita de um líder de um país europeu a Cuba acontece cinco meses depois da investida do presidente Barack Obama contra o fim do isolamento da ilha, quando anunciou o restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos. O país de Barack Obama também está de olho nas relações comerciais com o país.
O protagonista Francisco 
O Papa Francisco é um personagem importante nos avanços obtidos por Cuba com os Estados Unidos. A intervenção do Vaticano foi fundamental para a retomada histórica em dezembro das relações diplomáticas entre os ex-adversários depois de mais de meio século de antagonismo.
O presidente Raúl Castro esteve nesse domingo com Francisco e agradeceu ao papa pela sua atuação na reaproximação entre Havana e Washington. Ele disse ter ficado tão impressionado com o pontífice que poderia voltar à Igreja, apesar de ser comunista.
Francisco, que deve visitar Cuba e os Estados Unidos em setembro, é membro da ordem religiosa jesuíta. Castro brincou dizendo que "até mesmo eu sou um jesuíta, em certo sentido", já que ele foi educado por jesuítas antes da revolução. "Quando o papa for a Cuba em setembro, eu prometo ir a todas as suas missas e ficarei feliz em fazê-lo", disse.
Brasil apostou antes no fim do isolamento
A movimentação de potências econômicas do Ocidente em direção a Cuba, de olho no potencial comercial do país caribenho, demonstra a vanguarda do governo brasileiro em antever o fim do isolamento econômico. 
O exemplo mais sintomático é o Porto de Mariel, intensamente criticado pela direita brasileira. Inaugurado em 27 de janeiro de 2014 com participação da presidente Dilma Rousseff, o porto foi construído pela empreiteira Odebrecht, e recebeu financiamento de US$ 800 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Além do Brasil, o empreendimento recebeu capital de chineses e outros países asiáticos. Situado a menos de 200 quilômetros da Flórida, Mariel é atualmente o porto mais próximo do território norte-americano. 
O empreendimento, alvo de mote pejorativo da direita brasileira, estimulou a ida de uma cadeia de indústrias brasileiras que devem aumentar as relações comerciais entre os dois países. Na última década, as exportações brasileiras para a ilha quadruplicaram a US$ 450 milhões, elevando o Brasil ao terceiro lugar na lista de parceiros da ilha, atrás apenas de Venezuela e China.
O Brasil também pretende aumentar as exportações de alimentos para Cuba, que importa mais de 80% dos alimentos que consome a um custo de de cerca de US$ 2 bilhões por ano.
O "milagre econômico de Cuba" já desperta claramente o interesse do mundo ocidental. Por ter visto e acreditado antes, o Brasil saiu na frente e deve colher seus frutos, apesar da torcida contrária da direita brasileira.

Brasil 247

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