O prazer como profissão


Com 1,57 metro de altura, 60 quilos, 27 anos, óculos de aros grossos e jeito de melhor aluna da classe, Mariana Blac poderia ser confundida com uma professora de escola primária. Mas ela vive uma rotina, digamos, bem mais prazerosa: é testadora de produtos eróticos.

Nascida em São Paulo, formada em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora e pós-graduada pela Cásper Líbero, Mariana começou a exercer o ofício pouco tradicional ao vencer 7 mil candidatos que pleiteavam a vaga. Depois de contato telefônico do dono do portal Sexônico, uma conversa ao vivo e um texto escrito sobre um assunto ligado à nova profissão, ela foi contratada. 
A carreira deu tão certo que Mariana abandonou o emprego numa agência de publicidade e agora não só escreve sobre seus produtos como coordena uma equipe de aprendizes. O portal passou a convidar os leitores a publicar suas próprias resenhas sob a supervisão de Mariana. O melhor do mês ganha 500 reais que devem ser obrigatoriamente investidos em produtos eróticos. O objetivo do Sexônico é ter em sua equipe fixa um casal, uma mulher com mais de 50 anos e um homem e uma mulher homossexuais. Mariana é a solteira da turma.
“A principal função dos produtos erótico é permitir que a pessoa se conheça melhor”, ensina Mariana. “A partir disso, ela terá mais confiança quando estiver com um parceiro e saberá conduzi-lo da melhor forma para conseguir prazer”.
Os adeptos da brincadeira são cada vez mais numerosos. Segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o setor cresceu 15% em 2012. Em junho, graças ao dia dos namorados, as vendas dos produtos atingem o clímax. “Em alguns estados o crescimento chega a 40%”, conta Paula Aguiar, presidente da Abeme. “A média no país fica em torno de 30%”. As mulheres representam mais de 60% dos consumidores tanto das sex shops tradicionais quanto das sexshops online. 
Amparada na mistura de atendimento ao consumidor, literatura erótica e uma pitada de autoajuda, Mariana já testou 17 produtos. Fala do trabalho com a naturalidade possível, mas sabe que muitos brasileiros encaram com espanto uma carreira tão ousada. Por isso, ela adotou o pseudônimo Mariana Blac. “Um amigo disse que eu tinha cara de Mariana e eu me identifiquei”, explica. O Blac era para ser Black (negro, em inglês), mas por alguma razão misteriosa o facebook impediu a incorporação do “K”. “Achei que Black soava chique”, brinca. “Remete a cartão de crédito”.
Quando não está encarnando a Mariana Blac, ela evita detalhar suas atividades. “Respondo apenas que sou jornalista”, diz. Segundo Mariana, os homens costumam intimidar-se com a carreira que ela escolheu. “Eles pensam que eu sou uma sumidade na cama”, diverte-se. “Mas em geral não sofro preconceitos. Algo tão natural quanto o sexo não pode envolver tantos tabus”.
Casados há 30 anos, seus pais ficaram sobressaltados com a opção feita pela filha. O susto passou. A perplexidade familiar certamente seria maior se fosse viva a parente mais famosa. A avó materna de Mariana é prima de Lúcia de Jesus dos Santos, a irmã Lúcia, uma das três crianças que viram Nossa Senhora na Cova da Iria, em Fátima, em 1917. Mariana declara-se agnóstica, mas reconhece que de vez em quando volta a ser assombrada pelo que chama de “culpa católica”.
Mariana garante que por enquanto está na profissão que pediu a Deus. Para o futuro, entretanto, os planos são um pouco mais ortodoxos. “Quero casar e ter três filhos”, revela. Aqueles óculos de aros grossos podem estar escondendo uma alma bem mais comportada. 

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