As consequências da lista

A lista de Janot conseguiu o que até pouco tempo parecia praticamente impossível: esvaziar e enfraquecer o movimento pro-impeachment

Acabou, finalmente, na noite de sexta-feira última a  expectativa que durante uma semana mexeu  com os nervos da classe política: o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, divulgou  os nomes dos  políticos acusados de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobrás, constantes da lista enviada a ele pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Não houve surpresas porque, com a politização da Operação Lava-Jato, o sigilo de Justiça, graças aos rotineiros vazamentos seletivos,  virou segredo de Polichinelo. E todo mundo já sabia, inclusive, que o procurador Janot, inexplicavelmente,  deixara de fora o senador Aécio Neves.


Na verdade, todo o processo, desde o início das investigações da Operação Lava-Jato, foi de tal modo politizado que o sigilo de Justiça virou piada, só valendo para preservar tucanos. Quando os citados nas delações premiadas eram figuras ligadas ao governo os vazamentos seletivos para a grande mídia oposicionista, desmoralizantes para a Justiça, passaram a ser encarados com naturalidade.  E todo o processo perdeu credibilidade, afetando a confiabilidade no trabalho conduzido pelo juiz Sergio Moro. A desconfiança acabou respingando também no procurador Rodrigo Janot, que não deixou bem claro o critério usado para a elaboração da tão esperada lista.

A surpresa mesmo ficou por conta do senador Aécio Neves, sem duvida o maior beneficiário da politização da Operação Lava-Jato, que, embora retirado da lista de Janot,  acusou o governo de tentar incluir nela outros nomes, colocando sob suspeição não apenas o procurador como, também, o trabalho do juiz Moro e do Ministério Público. Aécio fora acusado pelo doleiro Alberto Youssef, em sua delação premiada, de ter recebido recursos desviados de Furnas através da sua irmã, conforme o jornal “O Estado de São Paulo”. Janot, porém, pediu o arquivamento das investigações contra o senador mineiro por considerar insuficientes as informações fornecidas pelo doleiro. O deputado Rogério Correia, do PT mineiro, no entanto, estranhou a alegação do procurador, afirmando que  ele próprio entregara pessoalmente as provas no gabinete de Janot, em Brasilia. “É um absurdo o  Janot, mesmo sabendo disso tudo, não ter aberto  inquérito contra o Aécio”, disse o parlamentar.

A grande mídia, essa mesma que lança às feras, à simples citação do nome, políticos ligados ao Palácio do Planalto, desde o anuncio da elaboração da lista empenhou-se em blindar o senador Aécio Neves, pressionando sutilmente o procurador para não inclui-lo no seu pedido de investigação ao Supremo Tribunal Federal. E antes do vazamento que indicava ter Janot retirado da relação o nome do presidente nacional do PSDB, contrariando as expectativas, o jornal “Folha de São Paulo” procurou preparar o terreno para aliviar a situação do seu pupilo, amenizando o tom do seu noticiário. Em editorial chegou a dizer: “Investigados ou acusados, pouco importa, citados no Lava-Jato, não poderão ser considerados culpados antes que o Judiciário assim o decida”. E acrescentou: “Qualquer prejulgamento, além de violar os direitos ao contraditório e à ampla defesa, apenas contribuiriam para desmoralizar instituições que tem dado seguidos sinais de amadurecimento”.   Mudou. Até então os petistas  eram julgados e condenados à simples citação do seu nome. 

Aparentemente a inclusão na lista do nome do senador  Antonio Anastasia, o único tucano a ser investigado, teria sido decidida à última hora pelo procurador Janot, para aliviar a pressão diante das noticias de que ele ficaria de fora embora acusado de receber propina  pelo mesmo policial que acusou o deputado Eduardo Cunha. Seria muito difícil para Janot explicar o critério utilizado. Por outro lado, a divulgação da lista, embora preservando o tucano-mor, deverá provocar enorme agitação no Congresso Nacional, pois incluiu entre os que deverão ser investigados por suspeita de envolvimento no esquema de propinas da Petrobrás os presidentes das suas duas casas, o senador Renan Calheiros e o deputado Cunha. Por conta disso, seus adversários certamente vão querer apeá-los dos cargos e deveremos assistir a uma verdadeira guerra nos bastidores e no plenário, com inevitável fragilização do poder legislativo. 

De qualquer modo, a lista de Janot conseguiu o que até pouco tempo parecia praticamente impossível: esvaziar e enfraquecer o movimento pro-impeachment. As atenções agora se voltarão para a CPI da Petrobrás e para as investigações que serão levadas a efeito pelo Supremo Tribunal Federal, no que diz respeito aos detentores de mandato que tem direito a foro privilegiado, e pelas instâncias inferiores da Justiça quanto àqueles que, agora sem mandato, perderam esse direito. A  mídia comprometida terá muito combustível para alimentar seu noticiário, preservando, obviamente, o único  tucano que Janot manteve na lista. Como esse será um processo demorado, ninguém pode prever como terminará. De uma coisa, porém, ninguém tem dúvidas: apesar da oposição da mídia e da politização da Operação Lava-Jato, quando tudo isso terminar o Brasil estará mais fortalecido. 

Ribamar Fonseca
Brasil 247

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