O Brasil está mesmo dividido? Veja o que dizem especialistas e internautas


Depois de reeleita por uma margem estreita, após uma das disputas mais acirradas e agressivas desde a redemocratização, Dilma Rousseff vai ser capaz de criar pontes com os mais de 48% dos brasileiros que não reelegeram a presidente?
Existem meios para aproximar dois grupos que ficaram tão divididas durante a disputa?
Como o Brasil pode passar dos tapas para os beijos?



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Entre os dez temas dominantes do Twitter brasileiro nesta manhã figuraram em primeiro lugar #RIPBrasil (Descanse em Paz, Brasil), uma hashtag compartilhada por muitos dos que ficaram frustrados com o resultado que saiu das urnas.
Devido aos muitos ataques que sofreram após a forte votação que Dilma Rousseff teve no Nordeste do país, muitos nordestinos e outros que decidiram se solidarizar aos nordestinos, compartilharam a hashtag #SoudoNordesteMesmoEComOrgulho.

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Na manhã seguinte à divulgação dos resultados, pintaram tuítes como este, que não parecem muito indicativos de reconciliação nacional.

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A imprensa estrangeira também discute a divisão ou não dos brasileiros:
Para o Financial Times, da Grã-Bretanha, "Dilma enfrenta agora a tarefa de unir um país dividido pela campanha mais agressiva dos últimos tempos, de ressuscitar uma economia que se arrasta e de pacificar mercados hostis."

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O repórter da BBC Brasil Hugo Bachega conversou com Ricardo Ismael, professor de Ciência Política da PUC do Rio de Janeiro. Para ele, as diminuições das tensões dependerá de atitudes da presidente e da oposição.
Embora ele acredite em uma trégua nos próximos meses, Ismael diz que os desdobramentos do caso Petrobras podem trazer novos conflitos.
BBC Brasil: A partir de agora, as tensões políticas irão diminuir?
Ismael: Isso vai depender de duas coisas principais: como vai se comportar a candidata reeleita, a presidente Dilma, se ela vai adotar uma agenda menos conflituosa, em termos de debate público.
O outro aspecto é, evidentemente, a maneira com a oposição vai ser comportar daqui para frente. Oposição essa que saiu fortalecida deste pleito, porque a vitória foi apertada.
Mas há uma tolerância normal, pelo menos nos primeiros dias do novo governo. Acho que há uma trégua nessa guerra.
O caso Petrobras, no entanto, é um caso conflituoso. Vamos aguardar o que vai dizer o Ministério Público.

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As demonstrações de preconceito sobre a votação de Dilma no nordeste também resultaram em manifestações opostas. O humorista Helio de la Peña foi um dos que criticaram a intolerância:

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A "CQC" Monica Iozzi também se posicionou:

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Neste momento, sete dos tópicos mais comentados por brasileiros no Twitter se referem às eleições. A divisão entre brasileiros aparece em pelo menos quatro deles - #SoudoNordesteMesmoEComOrgulho, MG e RJ, Sul e Sudeste e Impeachment.

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Nas redes sociais, apareceram mapas sugerindo a divisão entre sul/sudeste e norte/nordeste:

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Assim como o Brasil, os Estados Unidos também podem estar passando por seu momento de maior polarização no cenário político.
repórter Alessandra Corrêa informa que, segundo pesquisa recente do Pew Research Center, nos últimos 20 anos aumentou de 10% para 21% a fatia da população que se define como fortemente conservadora ou liberal.
Em 2009, ao assumir seu primeiro mandato, o presidente Barack Obama ainda falava em união e diálogo -assim como fez a presidente Dilma Rousseff em seu discurso após a reeleição.
Mas, hoje, o único consenso em Washington é que a divisão deve permanecer. Desde o início de seu governo, o democrata Obama enfrentou tentativas da oposição republicana de bloquear quase todas as suas iniciativas. No ano passado, o impasse chegou a provocar a paralisação do governo por 16 dias, por falta de acordo sobre o orçamento federal.
Para analistas, a polarização deve se aprofundar ainda mais a partir das eleições legislativas de 4 de novembro, quando os republicanos, que já controlam a Câmara dos Representantes (equivalente a deputados federais), poderão conquistar também o comando do Senado.

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A pedido da BBC Brasil, o cientista político americano Riordan Roett, especialista em América Latina, analisou o clima de polarização que se estabeleceu no Brasil após a eleição e comparou-o com o clima divisivo que vive os Estados Unidos atualmente. Confira a seguir:
"A política vem se polarizando no mundo nos últimos anos e o Brasil não é exceção. A disputa entre PT e PSDB se assemelha, até certo à rivalidade entre democratas e republicanos nos Estados Unidos.
A política americana permanecerá profundamente dividida até as próximas eleições presidenciais de 2016, independentemente de quem vencer as eleições para o Congresso no mês que vem. Obama é um presidente bem ‘‘pato manco’’. E até membros do próprio partido dele não querem que ele faça campanha por eles.
Será preciso uma liderança de verdade para que Dilma possa estender a mão ao outro lado, após o clima vingativo da campanha. Aécio talvez tivesse tido mais chances de ser bem-sucedido em promover uma tentativa de reconciliação.
No caso americano, Obama mostrou ser um político inábil. Ele não sabe como construir alianças ou lealdades pessoais. Ele é um “solitário”. No caso do Brasil, é difícil ver o lado perdedor aberto a uma reaproximação, infelizmente".

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A pedido da BBC Brasil, o economista americano Mark Weisbrot, analista de América Latina e diretor do instituto Center for Economic and Policy Research, de Washington, também comentou a polarização das eleições brasileiras e traçou comparações com o clima político vivido nos Estados Unidos atualmente.
BBC Brasil: O Brasil viveu uma das eleições mais polarizadoras e agressivas desde a redemocratização. O clima de ressentimento possui semelhanças com o que se viu nos últimos anos nos Estados Unidos, com um abismo cada vez maior entre democratas e republicanos?

Mark Weisbrot: Há semelhanças, sim. Com o aumento da polarização no Brasil, o PSDB atraiu mais apoio da centro-direita, mas uma diferença é que agora o PT tem um histórico de 12 anos no poder e há grandes mudanças visíveis: a pobreza extrema foi reduzida em 55%, a extrema pobreza em 65%; houve um aumento real da média salarial (segundo reajuste da inflação), de 35%, uma taxa de desemprego recorde; um aumento do salário mínimo real, de 90%; o PIB per capita cresceu mais de três vezes do que nos anos de Fernando Henrique Cardoso.

Os democratas, nos Estados Unidos, podem ter um histórico mais bem-sucedido no que diz respeito à economia e agora com o Obamacare (a reforma da Saúde de Obama) , mas o salário não aumentou muito nos últimos 35 anos e a desigualdade segue aumentado.

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Confira a segunda e última parte da entrevista com o economista americano Mark Weisbrot, sobre a polarização política nos Estados Unidos e pontos em comum que ela têm com o que se passou no Brasil.
BBC Brasil: A partir da experiência americana, existem formas de os vencedores estenderem a mão para os perdedores, de forma a dirimir as tensões?
Weisbrot: Receio que os Estados Unidos não sejam um bom exemplo. Os republicanos optaram por paralisar o setor público em vez de buscar consenso até em temas em que a grande maioria dos americanos estava ao lado do presidente.
Quanto ao Brasil, a classe media ganhou muito sob o governo do PT, foi para a classe media que foi redirecionada a redistribuição de renda. Isso é algo que o governo precisa explicar melhor, porque muitas pessoas não sabem disso.
E é preciso também responder às demandas para reduzir a corrupção, melhorar a infra-estrutura do país, a saúde e a educação. Houve melhoras significativas em todas essas áreas, mas não surpreende que os progressos levem a um aumento das expectativas.
BBC Brasil: Quando Obama venceu pela primeira vez, ele falava em reconciliar o país, mas, desde então, houve uma crescente disparidade entre as duas facções. Isso se deve a fuma falha dele? O Brasil tem como acertar onde os Estados Unidos erraram?
Weisbrot: Dilma precisa ser mais forte no sentido de resistir às pressões do poderoso setor financeiro, que influenciou seu governo a desacelerar a economia desnecessariamente desde o fim de 2010. Essa é a fonte de seus problemas econômicos atuais. Nos Estados Unidos, Obama também fez concessões a Wall Street em seu primeiro mandato. Como resultado, a economia foi mais lenta e fraca do que poderia ter sido. O resultado foi que os democratas perderam 63 acentos na Câmara dos Representantes em 2010.

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Os leitores da BBC Brasil continuam discutindo o tema em nossos perfis nas redes sociais. A conversa abaixo apareceu em nossa postagem no Facebook:

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"Quer separar o país, mas não separa nem o lixo em casa?", perguntam internautas pelo Twitter:

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“Para onde irá o ódio na segunda-feira?” foi a pergunta que o coordenador de comunicação da ONG Conectas Direitos Humanos, Rodrigo Durão Coelho, tentou responder em um artigo na BBC Brasil às vésperas da eleição.
Será que o ódio continuará a crescer, descambando para pequenas guerras urbanas?”, perguntou. “Ou talvez, passada a dor de cabeça inicial, seja possível enxergar que PT ou PSDB não vão fazer governos tão diferentes como gostamos de pensar?

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Às vésperas da eleição, perguntamos ao , coordenador de comunicação da ONG Conectas Direitos Humanos, para onde iria o ódio na segunda-feira. Hoje, voltamos a conversar com ele: para onde foi o ódio?
BBC Brasil: O que acontece agora com todo o ódio que se viu na eleição? A poeira vai baixar e os ânimos vão esfriar ou o ressentimento vai ficar guardado e explodir de novo em outra oportunidade?
Rodrigo Durão Coelho: Boa parte do ódio foi estimulado nos últimos anos por uma parte da imprensa no que pareceu ser uma tática para minar deliberadamente o governo. A acusação da [revista] Veja deste final de semana, afirmando categoricamente na capa, mas sem provas, que Dilma e Lula mentiram, foi mais um exemplo deste processo.
Que funcionou por radicalizar muita gente, que passou a acreditar que o Brasil está bem pior do que os indicadores mostram. Afinal um país com quase emprego pleno não me parece à beira da falência.
Portanto acho que sim, , passado esse primeiro momento de descanso.
BBC Brasil: O país sai mais dividido dessa disputa tensa ou o jogo vai mudar?
: Nas primeiras horas depois do anúncio do resultado o que se viu foram urros por boa parte de São Paulo vindos de janelas de apartamentos, xingando a Dilma e os nordestinos. Gente propondo dividir o Brasil entre o “Sul que produz dinheiro” e o “Norte que recebe dinheiro” e o impeachment da presidente.
Talvez esse tipo de coisa seja só catarse momentânea, desabafo impróprio causado pela derrota. Talvez não. É possível que seja a maturação de um sentimento que estava aí, envergonhado, mas que agora já tem coragem de ser falado. Talvez surja um partido de direita para capitalizar em cima disso.

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Confira aqui a segunda parte da entrevista com Rodrigo Durão Coelho, o coordenador de comunicação da ONG Conectas Direitos Humanos.
BBC Brasil: Os vencedores deveriam adotar algum gesto de boa vontade para com os perdedores? Em caso afirmativo, qual poderia ser esse gesto?
Rodrigo Durão Coelho: Claro que deveriam. Se o Brasil olhar para os vizinhos Venezuela e Argentina vão ver os malefícios de um país surdo e rachado.
Nesse sentido tanto Dilma como Aécio fizeram bem no tom conciliatório de seus discursos de ontem.
Mas acredito que o maior gesto seria propor uma aliança de governo com o PSDB, rompendo com o PMDB, partidos religiosos e outros que não são progressistas. Mas isso é só um delírio meu, por achar que PT e tucanos têm muito mais em comum e a oposição entre eles cria distorções, com os representantes do atraso compondo todos os governos e os impedindo de realizar reformas mais profundas. Pena que projetos de poder falem mais alto do que um projeto para o país.

BBC Brasil: O mito do Brasil como um país cordial caiu por terra diante da agressividade vista nas ruas, nas redes sociais e nas campanhas?
Essa expressão foi cunhada por Sérgio Buarque de Holanda que a empregou em seu sentido etimológico, de cordiais, ou coração. Nesse caso, a falta de modos vista recentemente foi a confirmação do mito. Fomos mais cordiais que nunca.

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Voltando a falar da repercussão na imprensa internacional da vitória de Dilma Rousseff, o jornal The New York Times, a vitória "endossa uma líder de esquerda que alcançou ganhos importantes na redução da pobreza e na manutenção do baixo desemprego" e ressalta a "campanha turbulenta" que ganhou o país nos últimos meses.

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O jornalista Luiz Caversan, da Folha de São Paulo, disse neste fim de semana em sua coluna que essas eleições servem para "derrubar definitivamente a máscara do brasileiro cordial".
Ele explica:
"Os xingamentos, a baixaria, a dissimulação, a intolerância que têm como epicentro as eleições e cenário mídias, propaganda política e sobretudo redes sociais, nada mais são que a emulação da grosseria, da violência, do egoísmo, da incivilidade, da incordialidade, digamos assim, que vivenciamos todos os dias nos mais variados lugares, não importando nem um pouco quem vota em quem."
Para Caversan, eventos como passar o sinal vermelho, furar fila e agressões entre torcedores, por exemplo, mostram que seria incorreto afirmar que a corrida eleitoral deixou o país dividido, como muito se disse durante as eleições.
"Não, o país já está dividido faz tempo", ele afirma.

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O jornalista Luiz Caversan falou sobre o clima de polarização política no Brasil e refutou a ideia que o país seja ''cordial''.
"O ódio, a intolerância, o racismo abjeto, a divisão 'nós versus' eles, que explodiram nestas eleições nada mais são do que a explicitação daquilo que sempre ocorreu de maneira mais dissimulada, menos exposta e menos grandiloquente, sem a barulheira proporcionada pelas redes sociais", disse o colunista.

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Caversan continua:
"Portanto, não, este clima de ruptura e enfrentamento não vai acabar com o fim da votação, assim como não começou nesta campanha política.
Mas note-se que esta exacerbação, este mostrar a cara para falar asneiras, foi, em termos de volume, absolutamente inédita:
O cara que chamava ironicamente seu porteiro de paraíba ignorante apenas nas internas ou no seu grupo de convivência, hoje grita contra ele, berra que odeia nordestinos para quem quiser ouvir no Facebook e no Twitter.
A mocinha bem nascida  grava um vídeo falando um monte de absurdos, comentários abomináveis, de teor nazista, e ganha centenas de 'likes', e assim a coisa segue, porque, afinal, eles são, no dizer dos 'outros', a elite 'branca reacionária e ignorante'."
O que demonstra muito claramente o fim definitivo de um mito e a perenidade ainda mais vigorosa e vexatória de outro: não, o brasileiro não é cordial, sobretudo os das classes mais privilegiadas; e sim, a casa grande versus senzala permanece firme e forte.

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Ainda falando sobre a vitória de Dilma na imprensa internacional, o diário venezuelano El Universal, de Caracas, optou por caminho distinto e mostrou não a desunião, mas destacou o que chamou de a integração entre países latino-americanos promovida pela reeleição do PT.
O texto mostra as reações dos presidentes de El Salvador, da Argentina, da Venezuela, da Colômbia, do México, Bolívia e Costa Rica.

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O cientista político Renato Perissinotto, da Universidade Federal do Paraná, diz acreditar que, ao menos entre os eleitores, o radicalismo tende a desinflar uma vez terminada a eleição, "porque ninguém fica pensando e falando em política o tempo todo".
Ele diz, no entanto, que o PT precisa mostrar que "entendeu o recado das urnas".
"Em especial, eles precisam acenar com políticas que atendam às necessidades da classe média urbana, demonizada por setores da militância petista", diz Perissinotto.
"Pode ser a reforma tributária, ou medidas para melhorar os serviços públicos - o fato é que o PT precisa voltar a ganhar apoio nesse segmento."

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Dica dos leitores da BBC Brasil: o site "Nordestino, sim" agrega perfis de usuários do Facebook que querem expor o orgulho de suas origens.

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Credito: AFP  
O escritor e jornalista Xico Sá se viu no centro do debate eleitoral ao deixar a Folha de S.Paulo por não poder apoiar Dilma Rousseff (PT) em sua coluna -o jornal proíbe declaração de voto em colunas e afirmou que ele poderia ter publicado o texto em outra seção.
O jornalista diz acreditar que haverá um "trégua" entre os eleitores até o início do ano que vem, quando se reiniciará a "guerrinha" política.
BBC Brasil: O que acontece agora com todo o ódio que se viu na eleição? A poeira vai baixar e os ânimos vão esfriar ou o ressentimento vai ficar guardado e explodir de novo em outra oportunidade?
Xico Sá: Teremos uma prorrogaçãozinha do Fla-Flu eleitoral; quem ganhou vai celebrar e zoar, quem perdeu tem o direito naturalíssimo ao esperneio. Até o Natal teremos uma rápida trégua... Para voltar a guerrinha de novo no começo ou recomeço do governo do eleito.
BBC Brasil: O país sai mais dividido dessa disputa tensa ou o jogo vai mudar?
Muito dividido. Pior é saber que a grande derrota, seja o amigo de que lado for, aconteceu no primeiro turno, com a eleição do Congresso mais conservador de todas as eras -avanço em matéria de costumes, por exemplo, nem pensar. Junho de 2013 deu em um pesadelo kafkiano.

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No bate-papo com a BBC Brasil, o jornalista e escritor Xico Sá destaca que, em sua opinião, a passionalidade eleitoral não vai permitir muitas concessões imediatas dos vencedores aos perdedores. Mas, para ele, pior que a "guerra" da ressaca eleitoral será a "guerra da água que viveremos em SP".
BBC Brasil: Você, que foi vítima de pesadas críticas, teme que você ou outros possam sofrer ataques semelhantes ou acredita que isso só ocorreu no calor do momento?
Xico Sá: Espero que não. Espero que os ataques, que não são nada agradáveis até agora, cessem com a apuração dos votos. Agora estou voltado para o Brasileirão, Copa do Brasil e a releitura de Machado de Assis -treinando para voltar ao exercício da crônica com tudo em 2015. Graças ao Eduardo Jorge (rs) também estou relendo as pequenas novelas de Tolstói. É tempo de reler o essencial.
BBC Brasil: Os vencedores deveriam adotar algum gesto de boa vontade com os perdedores? Em caso afirmativo, que gesto poderia ser esse?
Xico Sá: A passionalidade eleitoral não vai permitir isso agora. Saímos de uma campanha que ressuscitou até o fantasma do comunismo (rs). Acho que a selvageria segue mais um pouco. Mas pior do que tudo será a guerra da água que viveremos em SP.

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No Facebook, um evento foi criado contra as manifestações pró-separatismo no país.

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O rapper, escritor e ativista social MV Bill vai contra a opinião mais comum e diz que não viu ódio na eleição. "O que vi foi um marketing direcionado para essa tensão, tanto das campanhas quanto nas pessoas."
Para ele, as tensões do pleito tiveram um lado positivo porque fortaleceram a existência de uma oposição no país, que "havia acabado".
BBC Brasil: O que acontece agora com todo o ódio que se viu na eleição?
MV Bill: Não vi ódio na eleição, nem acho que no Brasil tenha espaço para isso ainda. O que vi foi um marketing direcionado para essa tensão, tanto das campanhas quanto nas pessoas. Todas querendo ser parte do time que venceria. Mas ódio não, só vi fumaça; melhor assim.
BBC Brasil: A poeira vai baixar e os ânimos vão esfriar ou o ressentimento vai ficar guardado e explodir de novo em outra oportunidade?
MV Bill: É provável que as tensões aumentem a partir de agora, o que acho positivo por um lado. Pois a oposição no Brasil havia acabado. É importante ter oposição , mas com responsabilidade. Não podemos ter apenas uma palarização para dizer não ao que está.

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Em conversa com a BBC Brasil, MV Bill afirmou que houve um crescimento da direita e que a eleição presidencial foi uma disputa entre os "se sentem contemplados e os que se sentem preteridos".
BBC Brasil: O país sai mais dividido dessa disputa tensa ou o jogo vai mudar?
MV Bill: Existe claramente um aumento de musculatura da direita, basta ver as votações de candidatos, que fizeram campanhas agressivas e assumiram claramente suas posições. Mas no caso da campanha presidencial, que não tinha essa conotação de esquerda contra a direita, que não chegou a ser uma campanha ideológica, mas uma polarização dos que querem mudança e dos que querem sequência. Dos que se sentem contemplados e dos que se sentem preteridos.
BBC Brasil: Os vencedores deveriam adotar algum gesto de boa vontade para com os perdedores? Em caso afirmativo, qual poderia ser esse gesto?
MV Bill: Em geral os vencedores acenam com a bandeira da paz, não dá para governar sozinho. Os perdedores em geral preferem contemplar sua depressão para não cultivar nos seus eleitores o sentimento de traição. O fato é que todos querem o poder, não necessariamente o melhor para o Brasil, se não partirem deles as boas ideias. Não promover a caça às bruxas já é um grande gesto.

com Bruno Garcez
BBC Brasil

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