As primeiras pesquisas para o
segundo turno da eleição presidencial divulgadas nesta quinta-feira
apontaram Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) em empate técnico.
Segundo o Datafolha e Ibope, o tucano tem 46% das intenções de voto
contra 44% da petista. Pela margem de erro - dois pontos percentuais
para mais ou para menos - os dois estão empatados, apesar da vantagem
numérica do ex-governador de Minas Gerais.
O Datafolha entrevistou
2.879 pessoas em 178 municípios na quarta e nesta quinta. O nível de
confiança da pesquisa é 95%. Já o Ibope ouviu ouviu 3.010 eleitores em
205 municípios de 7 e 8 de outubro.Durante toda a corrida presidencial, essa é a primeira vez que Aécio aparece à frente de Dilma numericamente. Nas pesquisas realizadas no primeiro turno, o ex-governador mineiro despontou inicialmente como segundo colocado, à frente de Eduardo Campos, então candidato pelo PSB. Posteriormente, com morte de Campos e a entrada de Marina Silva na disputa, Aécio caiu para terceiro na preferência do eleitorado, com menos de 20% das intenções de voto. A uma semana da eleição, no entanto, o tucano começou a virada que pavimentaria seu caminho ao segundo turno.
No pleito do último domingo (5), Dilma obteve 41,5% dos votos válidos e Aécio ficou com 33,5%. Marina Silva foi a preferida de 21,32% dos eleitores.
Esta será a quarta vez seguida que PT e PSDB se enfrentarão no segundo turno – nas últimas três, com Lula duas vezes (2002 contra José Serra e 2006 contra Geraldo Alckmin) e Dilma na última (2010 contra José Serra), os petistas saíram vencedores.
Propagandas na TV
Começaram também, nesta quinta-feira, as propagandas eleitorais dos dois candidatos, que agora têm o mesmo tempo de TV – dez minutos para cada. Pelo que se viu no primeiro programa, Dilma e Aécio começaram adotando uma estratégia mais cautelosa e sem muitos ataques neste segundo turno, mas para os analistas, o 'jogo está começando agora' e deve ficar mais agressivo nos próximos dias."Os dois times começam jogando na retranca, ninguém vai se expor muito. O discurso não foi inócuo, foi bem constituído e sinalizou que a campanha da Dilma se centrará na comparação dos índices da era PT x era FHC (Fernando Henrique Cardoso, presidente de 1994 a 2002) e vai falar dos programas sociais, que é o ponto forte dela", disse Wilson Gomes, professor e pesquisador de Comunicação e Política da UFBA.
"Já o Aécio começou falando de 'mudança', que era o discurso da Marina também. Nas últimas três eleições presidenciais houve esse discurso da mudança. O Aécio vai tentar ocupar esse lugar agora."
Para Wilson Gomes, a pesquisa apontando um empate técnico foi uma 'ducha de água fria' para o PSDB, que chegou a usar dados de uma outra pesquisa encomendada pela revista Época que colocava o tucano oito pontos a frente de Dilma. Mas ele ressalta que a disputa, efetivamente, começa agora.
"O jogo está todo a ser jogado, está na prorrogação e eles estão empatados, as condições são iguais, o tempo de TV também é igual, então fica na disputa principalmente pelos indecisos", opinou.
O cientista político da Unesp de Marília, Antônio Carlos Mazzeo, concordou com Gomes e acrescentou: os indecisos poderão definir o rumo da eleição no segundo turno.
"O jogo começou agora e está zero a zero. Existe uma parte do eleitorado na Marina que não quer o PSDB, mas tem parte que vai votar no Aécio. E tem uma parte que se absteve também, que foram muitos, e são esses que vão ser objeto de disputa agora", disse o cientista político da Unesp de Marília, Antônio Carlos Mazzeo.
Somados nas duas pesquisas, votos brancos, nulos e indecisos representam 10% dos eleitores. Para Gomes, as propagandas eleitorais de Dilma e Aécio agora devem ser direcionadas principalmente a eles.
"Cerca de 30, 35% dos eleitores já estão estabilizados ou com um ou com outro, mas tem outro percentual que pode ser movido, que são os indecisos, ou os que estão com o voto nulo e branco de protesto ou aqueles que apoiam um ou outro candidato, mas sem tanta certeza. Esse percentual é que vai decidir a eleição", disse Gomes.
Ataques
Na primeira propaganda eleitoral de Dilma Rousseff e Aécio Neves para o segundo turno, nenhum dos dois fez ataques explícitos ao outro - os dois apenas fizeram referência ao "adversário", mas não citaram o nome um do outro. A atual presidente aproveitou para explorar o comparativo do governo de Fernando Henrique com o dos últimos 12 anos de PT no poder e ainda criticou a frase dita por FHC nesta semana a respeito dos eleitores do partido - FHC disse que "os que votam no PT são os menos informados".Já Aécio abordou muito a questão da necessidade de 'mudança' no país, citou a corrupção para criticar o governo do PT e insistiu na importância de o Brasil 'voltar a crescer'. Assim como Dilma, ele optou por ataques 'sutis' à adversária. Mas para os analistas, a estratégia dos dois deverá se tornar mais agressiva ao longo da corrida eleitoral.
"Ao longo dos debates, a coisa vai ficar mais explícita. Vão ter que sair das afirmações genéricas, falar de propostas, como vão combater corrupção, como vão melhorar economia, como vão ampliar programas sociais? As baixarias não vão desaparecer, isso vai se radicalizar com o tempo", disse Mazzeo.
"Os ataques vão acontecer. Com os dois candidatos disputando o eleitor voto a voto, tende a piorar essa 'vibe' agressiva. Vai ter ataque, eu prevejo isso, e o clima das redes sociais já mostra isso. A campanha vai ser muito pesada", opinou Gomes.
O primeiro debate entre os presidenciáveis na TV acontece na próxima terça-feira e será transmitido pela TV Bandeirantes.
Renata Mendonça
Da BBC Brasil em São Paulo
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