A nova ciência da inteligência física

No livro 'Sensation' (Sensação, sem edição em português), a psicóloga Thalma Lobel, da Universidade de Tel Aviv, reúne as mais importantes pesquisas da área da inteligência física, um ramo inovador da psicologia que mostra como temperaturas, texturas, cores, luzes, sons e cheiros são decisivos em nossas atitudes, julgamentos e até avaliações morais


Sentar em uma cadeira dura torna as negociações do cotidiano mais difíceis, usar roupas de cor preta desperta a agressividade e lavar as mãos pode nos deixar mais rígidos ao julgar dilemas morais. Parece difícil que os objetos ao redor tenham tanta influência em nosso comportamento, mas uma série de estudos sobre inteligência física feitos na última década tem mostrado como o ambiente age de forma poderosa na mente humana. 

Em seu livro Sensation: The New Science of Physical Intelligence (Sensação: A Nova Ciência da Inteligência Física, sem edição em português), a psicóloga Thalma Lobel, da Universidade de Tel Aviv, reúne as mais importantes pesquisas dessa nova área, feitas por cientistas de universidades como Harvard, Yale ou Columbia, nos Estados Unidos, e publicadas em importantes revistas como Science e Nature. Estudando por mais de uma década temperaturas, texturas, cores, luzes, sons e cheiros, Thalma demonstra não só que essas sensações podem ser decisivas em nossas atitudes e julgamentos, mas revela a forma precisa como elas nos influenciam.
“Tocar um objeto macio faz com que nossas atitudes sejam mais brandas, assim como ter nos braços algo quente torna nosso comportamento mais caloroso. Essas sensações físicas, que na maior parte das vezes nem nos damos conta, têm um grande poder sobre nós”, diz Thalma, que é diretora do Centro Adler de Pesquisas em Psicopatologia e Desenvolvimento Infantil da Universidade de Tel Aviv.

Mente integrada ao corpo — Chamada em inglês de embodied cognition e traduzido em português como cognição incorporada, corporal ou inteligência física, o campo de estudos de Thalma acredita que a relação entre o corpo e a mente é determinante para o comportamento e a inteligência humanos. Pelo menos desde o início do século XX, a ciência sabe que essa associação existe, mas ainda não entendia ao certo como funcionava.
Esses estudos ganharam forma nos anos 1980, quando o linguista americano George Lakoff, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, publicou o livro Metáforas da Vida Cotidiana, mostrando como as comparações que fazemos no dia-a-dia podem ser mais que figuras de linguagem. Assim, dizer que alguém está carregando um segredo “pesado” ou tem um amigo “doce”, poderia, realmente, corresponder às sensações físicas. Em 2008, um famoso estudo publicado na Science por pesquisadores americanos mostrou que pessoas que seguravam xícaras de café quentes aquecidas se tornavam também mais “calorosas”.
Foi o impulso que faltava para que diversas equipes replicassem essas descobertas, mostrando como outras metáforas, que relacionam texturas, temperaturas ou odores funcionam na mente humana. 
“Quando li o estudo sobre o café quente, comecei a pensar no quanto essas sensações físicas que experimentamos o tempo todo influenciam, inconscientemente, nosso comportamento”, diz Thalma. “Foi assim que decidi pesquisar essa associação entre a mente e o corpo por meio dessa nova abordagem, que diz que a mente não funciona afastada dos sentidos e que eles são uma ponte para nosso inconsciente e para o nosso processo mental.”
Situações ambíguas — Nas pouco mais de 200 páginas de seu livro, Thalma relaciona estudos recentes, feitos nos Estados Unidos e Europa. Entretanto, como as metáforas são construídas pela linguagem e essas regiões têm cultura próxima, ainda faltam projetos que revelem como funcionam as associações sensitivas em culturas orientais ou africanas para que as descobertas ganhem validade universal.
Um dos pontos importantes do livro é o alerta de que as sensações são fundamentais para nosso comportamento e atitudes, mas que a maior parte delas é decisiva apenas em situações ambíguas.
“Se alguém é muito ríspido, não vamos acreditar que ele vai se tornar agradável apenas porque segura um copo quente de café. No entanto, se seu comportamento for neutro, a sensação do calor emitido pela xícara quente certamente vai influenciar nosso julgamento a respeito dessa pessoa”, diz Thalma.
Em nosso favor — Assim, ter consciência de como o ambiente nos manipula seria um passo importante para conseguir recuperar o controle de nossas relações sociais. Thalma explica como oferecer uma bebida doce é capaz de tornar as companhias mais agradáveis ou de que forma uma peça de roupa vermelha é, inconscientemente, percebida como sinal de poder.
“Há muitos experimentos confiáveis nesse campo, que nos ajudam a ser menos controlados pelo ambiente. O conhecimento de fatores que acreditamos serem irrelevantes, mas que influenciam nossas decisões é fundamental para melhorar nossas interações com os outros, além de ser uma vantagem importante em qualquer negociação”, explica a pesquisadora.

Rita Loiola

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