Jovem lança plataforma de investimento para bancar painéis solares


Logo após o segundo ano na Universidade de Yale, em 2002, Billy Parish viu que a geleira que alimenta o rio Ganges diminuía rapidamente na Índia. Ele se convenceu de que estava frente a frente com a mudança climática e que precisava fazer algo a respeito.
Não demorou muito tempo. Ao voltar aos Estados Unidos, ele começou uma coalizão jovem que, em poucos anos, mobilizou milhares de pessoas com preocupações ambientais similares. Ele nunca chegou ao terceiro ano da faculdade.

Desde então, Parish chegou a outra conclusão: o capitalismo é uma força poderosa que pode ser utilizada no combate ao aquecimento global. Agora, aos 31 anos de idade, ele já está a meio caminho andado para colocar em prática uma nova missão: construir uma plataforma de investimento em energia solar que possa transformar gente comum em microfinanciadores.
Conhecida como Mosaic, a empresa funciona como um banco virtual de energias renováveis, solicitando investimentos para projetos solares e fazendo empréstimos que geralmente devem ser pagos após dez anos. A Mosaic recebe uma taxa de cada empréstimo e funciona de forma similar a uma plataforma de crowdfunding  [ financiamento por meio de doações ] como o Kickstarter, um site que liga empreendimentos criativos a apoiadores financeiros. No caso da Mosaic, com um mínimo de US$ 25, os investidores já podem receber algum lucro.
"Nosso objetivo é criar a plataforma de investimentos número 1 para energias limpas", afirmou Parish. Ele acrescentou que a Mosaic permite que os investidores "não sejam apenas consumidores passivos, mas criadores, donos e colaborem para que as coisas aconteçam."
2.000 clientes
A empresa ainda está no começo. Cerca de 2.000 clientes e 44 estados injetaram mais de US$ 4 milhões no financiamento de projetos desde que ela começou a pedir dinheiro em janeiro deste ano, e está aberta em todo o país para investidores autorizados – uma categoria que inclui certos indivíduos de grande potencial financeiro – e, até o momento, o público geral de Nova York e da Califórnia.
Ainda não se sabe se a Mosaic será capaz de colocar sua visão em prática, mas a empresa tem boas chances de crescer, com a negociação de acordos que poderiam permitir que os investidores usassem dinheiro de contas de aposentadoria. Isso, ao lado de novas regulamentações financeiras que permitem um marketing mais amplo para projetos de investimento, promete expandir drasticamente as fontes potenciais de dinheiro para projetos solares, bem como para outros tipos de energias renováveis que a empresa planeja desenvolver.
Embora essa seja uma das primeiras plataformas de crowdfunding focadas em energia, a Mosaic se inspirou em outros empreendimentos online que deram aos consumidores acesso mais direto a produtos e serviços. Financiar projetos de tecnologias e startups limpas é algo perfeito pra esse tipo de abordagem, afirmam seus apoiadores, uma vez que apenas um pequeno grupo de investidores tem podido participar até o momento, dificultando e encarecendo o investimento.
"Todas essas plataformas são conhecidas como 'mercados' porque ajudam a reunir populações, sejam homens e mulheres no Match.com [ site de encontros ] ou bancos e mutuários no Lending Tree [ de comparação de empréstimos ]", afirmou Judd Hollas, fundadora do EquityNet, que permite investimento direto em empresas novatas como uma forma de plataforma de capital de risco para as massas. "Era lógico presumir que a mesma coisa poderia e deveria acontecer com investimentos em private equity."
Muitos acreditam que a abordagem da Mosaic esteja unindo projetos solares de pequena escala, que são descentralizados por natureza, além de uma nova geração que se sente confortável com a tecnologia.
"Em uma era de redes sociais e de experiências de mídia, criação de músicas entre usuários e todos esses setores, tirar proveito dessa capacidade – unir esse fenômeno distribuído e descentralizado – e aplicá-la para o financiamento de uma fonte de energia que também foi criada em torno de uma arquitetura distribuída é um grande plano", afirmou Danny Kennedy, fundador da empresa de desenvolvimento solar Sungevity e membro da diretoria da Mosaic. "É por isso que o crowdfunding faz tanto sentido. É um futuro distribuído."
Investimento e política
Peter DaSilva/The New York Times
Parish 'Os jovens sempre estão na linha de frente'
 
Ao mesmo tempo, muitos americanos têm mostrado um interesse crescente em alinhar dinheiro e posicionamento político, especialmente entre investidores mais jovens. Quase metade dos investidores da geração X com mais de US$ 1 milhão de dólares escolhe seus investimentos com base em valores sociais, de acordo com uma pesquisa recente feita pelo Spectrem Group, um grupo de pesquisa em investimento.
Durante o colegial, Parish passou um semestre na Mountain School, em Vermont, onde sua preocupação com "o que está acontecendo ao redor do planeta" se cristalizou; em Yale, ele montou sua grade curricular com base no desenvolvimento econômico sustentável e trancou a matrícula permanentemente para começar a Coalizão de Ação pela Energia, que se descreve como "uma coalizão de 50 grupos de jovens com mentalidade ambiental e voltada para a justiça social".
"Os jovens sempre estiveram na linha de frente de qualquer grande movimento social da história e até aquele momento não havia praticamente nenhuma participação de jovens nas questões relacionadas à mudança climática", afirmou.
Aos 21 anos, ele fazia a gestão de um orçamento de US$ 5 milhões de dólares e de uma equipe de 89 pessoas nos Estados Unidos e no Canadá. Esse trabalho deu origem a uma iniciativa que, segundo Parish, ajudou a inspirar o programa de empregos verdes do presidente Barack Obama, além do livro "Making Good: Finding Meaning, Money, and Community in a Changing World" (Fazendo Bem: Encontrando Sentido, Dinheiro e Senso de Comunidade em um Mundo em Transformação, em tradução livre), que escreveu ao lado de Dev Aujla, fundador da organização de caridade DreamNow.
Todavia, foi o período em que passou trabalhando na Coalizão da Água de Black Mesa, em Flagstaff, Arizona, a partir de 2007, que uniu a visão empresarial de Parish com sua rede de contatos. Foi lá que ele trabalhou ao lado da esposa Wahleah Johns para fechar usinas de carvão mineral que infectaram as fontes de água potável da Nação Navajo.
Parish também se reaproximou de Dan Rosen, atual executivo-chefe da Mosaic, que havia conhecido Parish enquanto buscava painéis solares para a escola onde fazia ensino médio em Ridgewood, Nova Jersey, e tinha ido trabalhar em Black Mesa após a graduação.
"Foi um daqueles momentos de revelação sobre o que viria a ser a Mosaic", afirmou Rosen, referindo-se à discussão sobre o desenvolvimento da energia solar como parte da transição após o fechamento das usinas de carvão mineral. Os índios navajo afirmaram que "queriam ser donos dos projetos – queriam ser os proprietários, queriam participar, queriam empregos e estavam até dispostos a investir".
Com sede em Oakland, Califórnia, a Mosaic está tentando capitalizar nesse desejo, encontrando e adaptando o máximo de projetos que sua equipe de 22 pessoas é capaz de fazer enquanto arrecada mais dinheiro para poder expandir as operações.
A Mosaic faz empréstimos apenas para projetos que já têm acordos de venda para a eletricidade que produzirão; em seguida, a empresa arrecada dinheiro de investidores, que recebem em troca de 4% a 6% quando o empréstimo é quitado. A empresa cobra uma taxa de 1% sobre cada investimento, além de um pequeno percentual sobre cada empréstimo, que varia de acordo com o projeto.
Os projetos da empresa foram modestos até o momento; entre outros, há um painel solar sobre o centro de empregos para jovens em Oakland, bem como no centro de convenções de Wildwood, Nova Jersey, e nos apartamentos da moradia da Universidade da Flórida, em Gainesville. Para seu projeto de maior proporção, a empresa planeja ajudar a financiar a instalação de mais de 55.000 painéis solares em mais de 500 casas militares em Fort Dix, Nova Jersey.
Os investidores afirmam que gostam de saber aonde o dinheiro está indo, ao invés de comprar somente fundos mútuos.
"Assim parece que há uma história e o dinheiro é investido de forma muito clara", afirmou Laura Deer Moore, diretora de um banco comunitário que conheceu a Mosaic porque queria investir seu pequeno plano de previdência de forma "consciente", segundo ela, e estava tendo dificuldades para encontrar uma forma de fazer isso. "Há uma missão muito bem definida e gosto disso."

The New York Times

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