Internet ajuda produtores brasileiros no combate à maior praga mundial da produção de laranjas

Desde seu primeiro registro no Brasil, o greening foi a principal praga responsável pelo aumento da taxa de mortalidade das árvores de citros, que saltou de 4,5% para 7,3% no período entre 2000 e 2010.  Mas a internet está ajudando o maior parque citrícola do mundo, localizado no estado de São Paulo, a diminuir os impactos da pior doença já constatada pelo setor.
Através da captura do inseto vetor (Psilídeo) em armadilhas adesivas, um grupo de citricultores da região envia informações para o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), que cruza os dados com a geolocalização das armadilhas e monta um mapa da incidência do inseto no entorno das fazendas produtoras de laranja.

Através da observação dos locais de maior ocorrência do inseto, os produtores podem, em grupo, aplicar os defensivo agrícolas para combater a praga. A integração diminui custos com o produto porque concentra o combate ao inseto em uma determinada região produtora, como explica Márcio Soares, supervisor de desenvolvimento e pesquisa agrícola da Agroterenas. “Concluímos que a eficiência do controle seria maior se nos uníssemos. Assim iniciou-se o Grupo de Manejo Conjunto em nossa região”, lembra Soares. A decisão foi tomada com base em uma pesquisa do próprio Fundecitrus. Em 2010, os pesquisadores ligados ao fundo publicaram um estudo que comprova a eficácia da aplicação em conjunto com outros agricultores da região, podendo reduzir em 90% os níveis de incidência do greening.
Grupo de manejo conjunto - greening no estado de São Paulo
Grupo de Manejo Conjunto do Greening em São Paulo: mapeamento contempla Araraquara, Santa Cruz do Rio Pardo e Avaré. Imagem: Google Maps.
Agroterenas atua desde 1989 na citricultura, cultivando 7,9 mil hectares divididos em três propriedades, todas no sudoeste de SP, próximas a Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo. A região é um dos três pontos de manejo da doença no estado. Juntos a ela, estão os municípios de Araraquara e Avaré. “Desde agosto de 2004 encontramos plantas com sintomas de greening nas propriedades. São efetuadas, no mínimo, quatro inspeções por ano e as plantas identificadas com sintomas da doença são imediatamente eliminadas”, conta o supervisor da empresa.

Do momento que foi feito o primeiro registro da doença nos pomares da Agroterenas até hoje, 110 mil laranjeiras foram eliminadas, o que representa 2% do parque citrícola da empresa. Levando-se em conta uma produtividade média de duas caixas por árvore a cada safra, apontada pelo estudo elaborado pelo Markestrat (2010), o prejuízo foi de 220 mil caixas de 40,8 kg, ou 8,97 mil toneladas da fruta. No Brasil, necessidade de combater a doença elevou a demanda por ingrediente ativo de inseticidas para a citricultura de 593 para 4.060 toneladas entre 2003 e 2008.

Armadilhas
Armadilhas adesivas para insetosNas bordaduras dos pomares, em uma distância máxima de 500 metros umas das outras, as armadilhas adesivas na cor amarela são instaladas. Elas são geolocalizadas por GPS e monitoradas a cada semana ou quinzena. Com os dados de quantos insetos cada armadilha capturou, o citricultor usa seu login para acessar o Alerta Fitossanitário do site do Fundecitrus e repassar as informações colhidas a campo. “O Fundecitrus fornece os mapas da incidência do psilídeo e cabe ao produtor a tomada de decisão por pulverizar ou não”, detalha Fábio dos Santos, pesquisador do Fundecitrus.

Ao todo, estão monitoradas 81 propriedades citricultoras, que compreendem 64 mil hectares de área cultivada, totalizando 27 milhões de plantas. O sistema atualmente está restrito ao estado de São Paulo e o produtor que quer se unir ao Grupo de Manejo Conjunto deve preencher um pré-cadastro disponível no site do Fundecitrus. Depois disso basta instalar as armadilhas e será disponibilizada uma senha para que ele possa vistoriar as ocorrências do inseto e também atualizar as informações de suas próprias armadilhas. “O objetivo é melhorar o manejo da doença. Não temos como atender outros estados, mas quanto mais produtores se juntarem ao sistema, melhor”, recomenda Santos.

Mapa do greening: exemplo da incidência da praga na região de Santa Cruz do Rio Pardo, SP:
pragas citrus
Greening: características
O greening pode ser transmitido de duas formas para as plantas: através de material verde contaminado pelo inseto vetor ou com a ação direta do próprio psilídeo. O inseto injeta no floema da planta os agentes causadores da doença, que desfigura os frutos, desfolha as árvores e causa a morte dos ramos. Como não tem cura, a eliminação da planta para que outras árvores ao redor não se contaminem é iminente.

Citricultura no Brasil
Segundo o artigo “O retrato da citricultura brasileira”, organizado pelo professor Marcos Fava Neves e publicado pelo Markestrat, mais de 3 mil municípios brasileiros contém fazendas cuja atividade é a citricultura. O estado de São Paulo comporta 80% de toda a produção nacional, de cerca de 333 milhões de caixas com 40,8 kg. Com isso, três em cada cinco copos de suco de laranja de todo o mundo são produzidos nas fábricas brasileiras. O suco de laranja é a bebida mais consumida entre todos os sucos e tem 35% de participação de mercado.

Economicamente, a atividade gera à população brasileira 230 mil empregos diretos e indiretos, representando uma massa salarial de R$ 676 milhões. O PIB do setor citrícola no mercado interno é de US$ 4,39 bilhões, arrecadando US$ 189 milhões em impostos todo ano.

Para ajudar no combate ao greening, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento contempla, desde o Plano Agrícola e Pecuário da Safra 2010/11, um seguro rural contra cancro cítrico e greening. Já naquele primeiro ano, R$ 35 milhões foram disponibilizados como recursos para citricultores com até 20 mil pés cultivados, que correspondem a 87% dos produtores do país. Em 2012 no estado de São Paulo, o greening contaminou  6,9% das plantas, distribuídas por 64,1% dos talhões, aumento de 81,6% e 20%, respectivamente. O leste paulista é a região mais afetada pela praga (14,8% da árvores estão doentes), seguida pela região central (9,9%), norte (1,8%), oeste (1,3%), sul (0,85%) e noroeste (0,28%).

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